A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, a Chesf de todos os nordestinos, completa hoje 75 anos de atuação em prol do desenvolvimento do Nordeste e do Brasil. A data, que deveria ser de celebração, agora é de luta e resistência diante das ameaças trazidas pela privatização da controladora Eletrobras.
Fazer a defesa da Chesf é fazer a defesa da nossa história, das nossas riquezas e da nossa soberania sobre bens essenciais a qualquer nação: água e energia!
Constituída em 15 de março de 1948, a primeira empresa pública de eletricidade do Brasil se tornou uma potência – e não só de produção, transmissão e comercialização de energia. Desde a sua sede no Recife e por onde se estende a sua atuação no entorno de 16 hidrelétricas, a Chesf gera riqueza econômica, social e cultural. Ao gerir as políticas de uso das águas do Velho Chico, viabiliza abastecimento à população, promove a irrigação, a agricultura familiar, a pesca artesanal e o turismo, entre tantos outros setores que movimenta. Também se revela um instrumento primordial de convivência com a seca que assola a nossa região.
A companhia é parte da identidade do povo nordestino, uma de suas maiores referências e estrutura fundamental na redução das desigualdades regionais. Não por acaso, é cantada em verso e prosa por artistas populares como Luiz Gonzaga.
Todo esse legado corre o risco de desintegração. E não é de agora! No ano de 1995, em uma carta ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, o meu avô, Miguel Arraes, na condição de governador de Pernambuco, já alertava para as consequências de “privatizações selvagens”, como a do sistema Eletrobras. Arraes dizia que a venda da Chesf constituiria “um péssimo negócio para o País”. Não poderia estar mais certo.
Marcada por denúncias de irregularidades e ilegalidades, a privatização da Eletrobras, e consequentemente da Chesf, acabou por ser concretizada na nefasta era Bolsonaro. O desgoverno claramente entreguista e servil a interesses de oligopólios internacionais colocou em mãos privadas a gestão do setor elétrico e dos rios onde estão instaladas as usinas hidrelétricas. Isso a preços módicos comprados ao que, de fato, valem as nossas empresas. Não é de estranhar que o grupo que adquiriu a Eletrobras seja o mesmo envolvido no escândalo das Lojas Americanas. Do dia para a noite, acionistas minoritários se tornaram majoritários. Ainda pelos termos lesa-pátria estabelecidos na operação, apesar de continuar dono de 42% das ações, o governo brasileiro só pode participar das decisões como se tivesse 10%.
Caso a privatização não seja revertida, os impactos sócio-econômicos e culturais dessa venda podem se tornar irreparáveis para toda nossa região. A riqueza gerada pela companhia, em vez de contribuir para o desenvolvimento do território onde se situa, tende a ser repassada em forma de lucro para conglomerados estrangeiros. O papel social da Chesf, com o perdão do trocadilho, irá por água abaixo. O cenário será de aumento da conta de luz, desemprego na região Nordeste e desinteresse em levar energia para comunidades pobres e distantes, assim como em preservar o rio.
Nenhum país de base hidroelétrica importante privatiza o setor elétrico. Nem Estados Unidos nem China, Rússia, Canadá, Suécia, Noruega, Índia ou Japão caíram nessa cilada.
Como vice-líder do governo Lula, faço ecoar o sentimento do presidente e os anseios do povo do Nordeste e do Brasil pela reestatização da Eletrobras. Frente a um processo de privatização obtuso, precisamos voltar a estabelecer um canal de debate amplo com a sociedade sobre a questão. Queremos que a Chesf siga pública e ativa no desenvolvimento da nossa região. Viva a Chesf! Parabéns a todas e todos responsáveis pela grandeza da companhia.
Maria Arraes é deputada federal pelo SD-PE