As crises financeiras são particularmente perigosas porque são imprevisíveis. Há muito que se sabe que assim é, e é por isso que as notícias da última semana são motivo para preocupação. Depois da falência de três bancos nos Estados Unidos e do choque do gigante Credit Suisse, que chegou a perder esta quarta-feira um terço do seu valor de mercado, é curial recear o regresso dos fantasmas da falência ao sector da banca. Estamos ainda muito longe de um fenomeno demencial como o que desencadeou a crise do “subprime”, em 2008, mas há no ar emoções que tornam tudo mais difícil de prever.
A falência do Silicon Valley Bank e de mais dois bancos pequenos nos Estados Unidos pareciam apenas um sopro numa tempestade de vento: nada havia a recear. Excepto mudanças nas percepções e nos estados de espírito dos agentes dos mercados financeiros. De repente, o que podia ser um detalhe num relatório tornou-se essencial; o que necessitava apenas de algum tempo para se resolver tornou-se urgente. Quem acreditava que o contágio da crise dos três bancos americanos estava afastado pode ter subavaliado o problema.
É aqui que uma simples notícia de que um dos acionistas do Credit Suisse, o Saudi National Bank, se recusava a injetar mais capital no banco para evitar a ultrapassagem da fasquia dos 10% se torna num problema. Aí, os investidores deram conta de que em 2022 tinha havido uma enorme fuga de depósitos no banco. Recordaram as perdas gigantescas em fraudes como a do Greeensill ou da Archegos. Leram mais devagar as críticas ao sistema de controlo interno, que supostamente não era eficaz para “identificar e analisar o risco de declarações falsas nos seus reportes financeiros”.
Muitos destes problemas podem estar em vias de solução com a profunda reestruturação em curso no banco. As exigências da regulação garantem rácios de capital capazes de dar resposta a uma crise. Estes argumentos, porém, encaixam-se na categoria da razão. A fuga às acções do Credit Suisse, que penalizaram as cotações de todos os bancos europeus, resulta de uma atitude emocional. Todos nos lembramos do estouro do Lehman Brothers e do que se seguiu.
É por isso urgente segurar o gigante suíço e evitar que as dúvidas alastrem. Os reguladores da banca e do mercado financeiro da Suíça mantêm-se calados, com medo de incentivar o pânico. Nesta quinta-feira saber-se-á se essa é a melhor estratégia. Se não for, o melhor mesmo é pensar em medidas musculadas para segurar a banca. Num continente ameaçado pela recessão e assolado pela inflação, o fantasma do Lehman Brothers não pode regressar.
(Transcrito do PÚBLICO)