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Os povos da Amazônia (por André Gustavo Stumpf)

A descoberta de enorme jazida de petróleo no norte do Brasil pode ser a redenção econômica de uma região abandonada

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Foto colorida da floresta Amazônia - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida da floresta Amazônia - Metrópoles - Foto: Getty Images

A ministra Marina Silva, nascida no Acre, alfabetizada já na adolescência, conhece a pobreza de perto. Sua posição política em defesa do meio ambiente tem relação direta com sua infância e aquilo que a rodeava quando criança. No outro lado dessa fotografia existe o discurso de defesa do meio ambiente como ação política que se espalhou pelos países europeus, cujo nível de renda de seus habitantes é completamente diferente da brasileira e, em especial, da Amazônica.

A região Norte tem cerca de 25 milhões de habitantes. É a região menos industrializada e mais comprimida pela enorme extensão da selva amazônica. Em estados como Roraima, por exemplo, territórios de índios e reservas florestais alcançam quase a metade do território. Essa situação é comum a todos os estados da região. A população é majoritariamente pobre. Manaus que era uma cidade perdida no meio da mata ganhou a zona franca, no governo militar, ideia do avô do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos. E cresceu muito. Hoje é maior do que Belém.

São os dois maiores polos da região. A expansão do agronegócio de sul para norte modifica o perfil econômico da região. Quem viaja por terra de Goiânia para Rio Branco, vai encontrar várias pequenas cidades bem cuidadas ao longo do caminho, habitadas por gaúchos. É a rota da soja, e suas conexões, que passa de Rondônia e chega ao Acre. A pressão dos governos e instituições europeias deve conter a expansão territorial do agronegócio do Brasil. O receio dos europeus é concorrer com a agricultura brasileira. A deles é atrasada e subsidiada. Eles precisam conter o produto nacional na origem.

A descoberta de enorme jazida de petróleo no norte do Brasil, chamada de margem equatorial, pode ser a redenção econômica de uma região que foi abandonada desde a independência do Brasil. É bom lembrar que os amazônidas não aceitaram a Independência do Brasil em 1822. Preferiram ficar unidos a Portugal, como ocorria desde a descoberta do Brasil. A Independência foi imposta na Amazônia por soldados a serviço do almirante Cochrane – mercenário inglês que serviu a Marinha do Brasil – que ameaçaram bombardear Belém, em agosto de 1823.

A discussão sobre a defesa do meio ambiente no caso específico da Amazônia, já decidido que a região não é o pulmão do mundo, ganha outra dimensão. É preciso criar condições objetivas para ocorrer o desenvolvimento e a melhoria de renda na região. E o petróleo pode ser um instrumento ideal para que este objetivo seja alcançado ressalvadas as condições necessárias para proteger fauna e flora da foz do Amazonas que está a 500 quilômetros do local onde a Petrobras pretende fazer prospecção. O lençol petrolífero ocorre desde a Guiana, antiga Guiana Inglesa, cuja economia cresceu 62% desde que a riqueza submersa foi descoberta.

Há outras fontes modernas, confiáveis e duradouras. Uma delas são os ventos, os alísios, que trouxeram as caravelas dos portugueses. São ventos fortes e constantes que podem se transformar em energia elétrica. O potencial é, portanto, inesgotável. A energia eólica pode ser instalada em qualquer ponto do Brasil. O estado do Rio Grande do Norte já é quase autossuficiente com este tipo de energia. E se prepara agora para instalar torres mar adentro.

Mas há outro dado relevante. O sol aqui brilha o ano inteiro, com maior intensidade nos estados do centro-oeste, do Nordeste e do Norte. A energia solar é solução fácil de ser instalada em residências, prédios, residenciais ou comerciais. Ou em fazendas. Não há, portanto, problemas para iluminar as cidades no interior da Amazônia. Basta instalar placas fotovoltaicas e acender a luz. Muito simples e de baixo custo. Mas, o petróleo significa gordos royalties para os estados lindeiros. Impossível ignorar essa possibilidade.

A ministra Marina Silva, radical defesa do meio ambiente, precisa negociar, e gastar saliva, para conviver com adversários no mesmo espaço político. Ela já deixou o ministério em outro governo Lula por divergências pesadas. Naquela questão, a construção da hidrelétrica de Belo Monte, tinha razão. Foi erro monstruoso construir a usina que não consegue gerar o planejado e criou sérios problemas no meio ambiente. Muito barulho para resultado pífio. Faltou conversa. E houve corrupção milionária.

Agora, não. Os males da produção de petróleo são conhecidos: eventuais vazamentos, explosões e corrupção. No deserto arenoso de Dubai construíram um país moderníssimo com o dinheiro do petróleo. Sabendo usar, é dinheiro bem-vindo. Não sabendo, é maldição, como na Venezuela. Difícil é defender o meio ambiente para estrangeiro tirar fotografia de macaco e jacaré, enquanto o homem da região sofre com a pobreza.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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