Os líderes mundiais: a desfaçatez das decisões (por Ricardo Guedes)
Estamos em situação na qual incidentes podem ocorrer que resultem na precipitação de consequências drásticas para o mundo
atualizado
Compartilhar notícia
Os líderes dos países descolaram da população, de suas bases, de seus partidos, gerando perigos e idiossincrasias da mais absoluta desfaçatez das decisões.
Gramsci definiu os partidos políticos como constituídos por três elementos: uma base de apoio, um grupo de liderança, e o vínculo entre a base e a liderança que expressa o sentido do partido, da representação social. Nas teorias clássicas da democracia, Montesquieu, Descartes e Rousseau previam a representação social, a elegibilidade dos mais competentes, e a distribuição de renda devido a representação. Nada disto aconteceu.
Em The Spiral of Conflict, Max Heirich diz que os grandes conflitos começam com dissensões econômicas e sociais, seguido de dissensões políticas, até chegar de 2 a 5 atores, que vão decidir o futuro de tantos segundo suas percepções e decisões, por mais estapafúrdias que possam ser.
O mundo cresceu, e a desigualdade aumentou. Segundo o World Inequality Report, os 1% mais ricos aumentaram sua participação no PIB mundial de 16% para 20% de 1980 para cá. As lideranças se deslocaram da sociedade. Cada vez mais os Presidentes e Líderes de países mandam menos na sociedade, mas decidem mais, descolados desta mesma sociedade. Churchill representou um projeto para a Inglaterra; De Gaulle, um projeto para a França; Roosevelt, um projeto para os Estados Unidos. O que representou Trump? O que representa Biden? O que representa Macron? Zelensky, sem preparo para a política e eleito presidente da Ucrânia, país com PIB de US$ 200 bilhões, per capita de US$ 3.300,00, com US$ 150 bilhões de auxílio militar, o que representa? De outro lado, os modelos autocráticos com Putin e Xi Jinping, paradoxalmente mais representativos do que as cúpulas das democracias ocidentais, já que têm que representar as autocracias às quais pertencem, com maior ou menor inserção social.
Estamos no lodo do fosco. Os líderes de hoje dependem fundamentalmente da escalada internacional da violência para a sua legitimidade interna. Todos jogam como se o mundo fosse um cassino, como se não houvesse consequências além da perda de cada um. Mas na política internacional é diferente. Segundo a Teoria dos Jogos, todos os atores jogando de forma racional, podem levar a um desfecho irracional para a coletividade. Em entrevista recente ao The Economist, Henry Kissinger diz que estamos em situação na qual incidentes podem ocorrer que resultem na precipitação de consequências drásticas para o mundo, equivalente aos primórdios da Primeira Guerra Mundial. Todos querem e ninguém cede. No final, seguem os conflitos da guerra geopolítica na Ucrânia, dos supercondutores de Taiwan, e dos desarranjos políticos e do petróleo do Oriente Médio, além do conflito estratégico das Coreias. Enfim, por erro ou por exagero, a guerra nuclear torna-se possível.
Há a necessidade da formação de consensos mínimos.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus