A reunião ministerial, esta semana, no Palácio do Planalto, apontou para algumas diretrizes práticas e estratégicas do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na corrida de seus primeiros 100 dias de governo. Quatro anos passam velozes e quando menos se espera lá se foi o tempo, desperdiçado em muita conversa e poucas ações; é preciso pressa no gerenciamento da coisa pública; enxugar adjetivos nas falas, sobre “projetos geniais” – tipo o “Voa Brasil”, da passagem de avião a R$200, do ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, sem saber de onde tirar recursos para o “milagre”– e dar substância aos fatos e às coisas essenciais, a exemplo de obras e serviços paralisados por todo país, à espera de iniciativas concretas. E atentar para a recomendação do mandatário do Palácio do Planalto: de que “as genialidades” de cada ministro precisam passar, antes, pelos olhos e ouvidos do ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, que, a cada reunião, escala “em correria” – usando palavra chave do marketing de sua gestão à frente do governo da Bahia – as funções mais decisivas do terceiro Governo Lula.
Foi isso que ficou claro, terça-feira 12, na reunião de ministros e auxiliares mais diretos da atual administração petista – apesar da fachada, de frente democrática, para efeito externo e discurso ideológico.
Já existem sinais de ciúmes e mal estar, cada vez mais incisivos, principalmente aqui, na beira “da baia de todos os santos e de quase todos os pecados” – no dizer do saudoso jornalista, novelista e cronista, Nelson Gallo – de onde escrevo este artigo. Diante do que se viu e ouviu na reunião, restaram aos ministros, auxiliares, companheiros de partido, aliados mais chegados e analistas (com acesso à informações calibradas), poucas ou nenhuma dúvida de que Lula não estava brincando quando, dias antes, em reunião para lançamento de relevante programa governamental, afirmou: “o companheiro Rui Costa é a Dilma de calças de meu atual ministério”. Precisa desenhar?
Seja como for, o fato é que a estrela (sem duplo sentido) do chefe da Casa Civil, sobe a olhos vistos dentro do Palácio do Planalto e redondezas. Mesmo que alguns, – militantes de base, ou astros petistas de raiz, no estado e outras regiões, – prefiram enxergar tudo (ou quase) como habitual prática do partido reinante de administrar conflitos de egos e disputas internas de poder, espalhando cascas de bananas nas quais, Rui Costa, na correria habitual de seu temperamento, vai escorregar mais dia menos dia. Que ninguém se assuste ou surpreenda-se, mas é isto que se escuta por trás “ dos muros baixos da Cidade da Bahia”, de que falava o antigo e demolidor poeta satírico da corte no tempo do Império, Gregório de Mattos Guerra.
Por enquanto, porém, o saveiro do ex-governador navega a todo pano em águas do Brasil. A ponto de Rui topar – e vencer – o desafio, com o seu ex- guia político, senador Jaques Wagner, e conduzir a esposa Aline Peixoto, à vaga vitalícia e regiamente remunerada de membro do Tribunal de Contas dos Municípios, um dos mais disputados postos políticos regionais. Ganhou a briga na Assembléia Legislativa, com expressivos 40 votos parlamentares, dados à sua mulher, contra 19, do opositor, Tom Araújo, do União Brasil. O resto o tempo, senhor da razão, dirá.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br