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O tamanho do bolsonarismo (por Ricardo Guedes)

Bolsonaro dificilmente voltará a ser líder majoritário na política brasileira

atualizado

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Reprodução/TV Brasil
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1 de 1 bolsonaro_aman - Foto: Reprodução/TV Brasil

Bolsonaro foi eleito em 2018 como candidato de 3ª via, no desgaste do PT e do PSDB. No 1º turno, Bolsonaro obteve 33% do total do eleitorado, Haddad 21%; no 2º turno, Bolsonaro 39%, Haddad 32%. Em 2022, no 1º turno Lula obteve 37% do eleitorado, Bolsonaro 33%; no 2º turno, Lula 39%, Bolsonaro 37%. Observe-se que Bolsonaro no 1º turno de 2018 e 2022 obteve os mesmos 33% do total do eleitorado, sem qualquer crescimento. No 2º turno de 2018 e 2022, 39% e 37% respectivamente, com decréscimo no percentual.

Nas pesquisas Sensus, dos 37% de votos do total do eleitorado obtidos por Bolsonaro, 17% são votos de centro que poderiam ter ido para outros candidatos, não tivessem sido as eleições polarizadas inviabilizando a 3ª via. 20% formam o seu núcleo duro eleitoral. Destes 20%, 1,3% são radicais, os que somente votam em Bolsonaro e ao mesmo tempo se opõem à democracia, ou seja, 2 milhões do total de 156 milhões de eleitores, parcela residual na sociedade.

Nos protestos dos caminhoneiros, com média de 100 caminhões por 300 pontos de bloqueio, o número total perfaz 30 mil caminhoneiros nas manifestações. Para 843 mil caminhoneiros no país, o percentual é de 3,6% da categoria, parcela residual na atividade.

Lenin, em “O que fazer?”, urge pela organização de um grupo em partido para a ação política, aplicável a qualquer matiz ideológico, da direita à esquerda. No Brasil, entretanto, os partidos são mais próximos a agremiações de grupos de interesses pessoais do que para a ação social coletiva, resguardados limites e gradações. Os partidos que antes orbitavam em volta de Bolsonaro, hoje alinham-se a Lula, pragmáticos que são. Os grupos das atuais manifestações se tornam vocais, mas sem organização e de pouca eficácia. Vivem na nuvem e nas ruas, não no campo da ação política real.

Bolsonaro tarda a assumir, pós-eleitoral, o papel de liderança, dentro do limite das regras políticas. Simmel, em “Das Geld in der modernen Cultur” (O dinheiro na cultura moderna), diz que a liderança é uma relação recíproca, onde o liderado deseja o líder para poder se eximir da responsabilidade da ação social.  Às vezes, o líder “torna-se escravo de seus próprios escravos”, na ênfase retórica do papel da liderança junto aos liderados.

Bolsonaro terá dificuldades em transitar no meio político e eleitoral. O escritório político pós-eleitoral destinado a Bolsonaro, como se diz na gíria, parece ser mais para “inglês ver”, numa alusão a projetos fake que eram montados em contrapartida a recursos que vinham do exterior. Em Lula desenvolvendo seu governo com crescimento do PIB, programas sociais, e idoneidade, surgirão novos líderes conservadores em substituição à Bolsonaro. Bolsonaro foi um ponto fora da curva da história política brasileira.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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