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O dilema da economia e da ecologia (por Ricardo Guedes)

A crise ecológica levará à ruptura da base social, com políticas mais restritivas e menor representatividade social

atualizado

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LeoFFreitas/ Getty Images
Fotografia de cima de uma parte da floresta Amazônica - Metrópoles
1 de 1 Fotografia de cima de uma parte da floresta Amazônica - Metrópoles - Foto: LeoFFreitas/ Getty Images

A velha questão: o que fazer? Perseguir o desenvolvimento econômico sem levar em conta a ecologia, ou manter o meio ambiente sem solucionar as questões sociais? Soluções intermediárias? Eis a questão.

A economia e a ecologia, hoje, encontram-se em tendências e direções opostas. Quanto mais economia mais danos à ecologia, com consequências sociais. Quanto mais se preserva a ecologia menos desenvolvimento econômico, com consequências sociais. Estamos na situação clássica do Dilema do Prisioneiro da Teoria dos Jogos, onde as pessoas agem no meio termo, sem soluções definidas para os problemas. No dito popular, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É uma situação sem saída, de solução precária, estranguladora das decisões.

Paulo Paiva, em artigo recente, diz que “nos últimos 250 anos, o mundo experimentou um período de grande prosperidade, com a elevação contínua da renda per capita, indicador de crescimento econômico e de bem-estar. Receia-se que esse processo secular de expansão esteja com seus anos contatos”.

A desigualdade aumenta e as democracias tornam-se instáveis. O World Inequality Report de 2020 mostra que desde 1980, no mundo, os 50% mais ricos aumentaram e os 50% mais pobres diminuíram sua participação no PIB dos países. Adicionalmente, o estudo The Global State of Democracy de 2019 mostra as democracias cambaleantes, com crise de representatividade e aumento do autoritarismo nas sociedades.

O planeta está consumindo mais do que pode. Segundo a organização Over Shoot Day, em 2021 o mundo exauriu seus recursos anuais naturais em 29 de julho, tomando o restante como empréstimo do futuro, com alto preço a ser pago. O planeta é pequeno, com pouco oxigênio, e acelerado processo de biodiversidade sem que tenha dado tempo para as espécies se acalmarem e chegarem a soluções mais adequadas à convivência e à sobrevivência.

Os países objetivam o crescimento contínuo do PIB, que quanto mais cresce mais danifica a natureza, em uma equação perversa. A crise ecológica levará à ruptura da base social, com políticas mais restritivas e menor representatividade social. Os bens e produtos serão escassos, com o desequilíbrio social. A população, a longo prazo, tenderá a diminuir, diante da escassez econômica e novas condições sanitárias. A solução seria tecnológica? A tecnologia será também afetada, posto que seu desenvolvimento pressupõe a existência de população numerosa e organizada para a sua produção.

Hoje, estamos na ecologia como possível ciência na mesma situação em que o Iluminismo no século XVIII estava para as teorias sociais e da democracia. Há de vir a síntese teórica que alicerce as tendências ecológicas com as ciências naturais e sociais, como luz do que fazer, como esperança.

 

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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