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O clima mudou na Febraban (por Felipe Sampaio)

De olho nos frigoríficos que comprarem de pecuaristas responsáveis por irregularidades no desmatamento

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desmatamento amazonia madeira ilegal - metrópoles
1 de 1 desmatamento amazonia madeira ilegal - metrópoles - Foto: Getty Images

Os bancos brasileiros fizeram um movimento importante esta semana. De olho nos impactos do aquecimento global sobre seus lucros e sua imagem, o setor financeiro endureceu as exigências para concessão de crédito ao agronegócio.

Os frigoríficos que comprarem de pecuaristas responsáveis por irregularidades no desmatamento de áreas nativas ficarão mal na cartilha de crédito da Febraban. A iniciativa demonstra que a mudança climática chegou ao andar superior do PIB brasileiro.

O crescimento na intensidade e na frequência dos extremos climáticos mundo afora indica que os custos ambientais para o setor financeiro podem inviabilizar os negócios, caso não haja uma mudança de mentalidade empresarial, especialmente naquelas cadeias produtivas com maior pegada ecológica.

O raciocínio nesse campo é complexo porque envolve a elevação indireta de um indicador primordial no mundo dos investimentos – o risco. A regra clássica é simples, quanto maior a probabilidade de um empreendimento dar errado, maior é o valor cobrado pelos bancos financiadores, fundos de investimentos e seguradoras.

Tal complexidade reside no fato de que a mudança climática é uma modalidade de risco transversal. Ou seja, quando a agro brasileiro provoca subidas na temperatura do planeta, é razoável considerar que estradas, indústrias, portos e plantações do outro lado do globo possam ser atingidos por fenômenos como a elevação dos oceanos, enchentes e secas, comprometendo as expectativas de lucros e prejuízos.

Apenas para se ter uma ideia das cifras que estão em jogo, um estudo relevante produzido pelo Instituto Igarapé (Ferguson Sekula e Szabó, 2020) chamava a atenção para a relação entre o risco climático e a disposição dos investidores.

Na ocasião, o Igarapé destacou a manifestação de 251 investidores globais (detentores de uma carteira de negócios de US$ 17 trilhões), reunidos em torno de uma nota pública por meio da qual cobravam o compromisso ambiental das empresas brasileiras.

O documento da Febraban é assinado por 21 bancos, incluindo campeões privados como Itaú, Bradesco e Santander, além de instituições públicas como o Banco do Brasil e a Caixa.

O novo protocolo da Febraban chega em boa hora, também por sinalizar o nível de exigência do mercado brasileiro, no momento em que as ilegalidades na Amazônia ganham estatura e entrelaçamento com perfil de crime organizado e afrontam a soberania e o Estado de direito.

 

Felipe Sampaio: atual diretor do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública SINESP; cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou a assessoria dos ministros da Defesa e da Segurança Pública; foi secretário-executivo de segurança urbana do Recife.

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