O Brasil sempre evolui menos do que precisa na educação. Muito esforço criativo tem sido colocado por novos governos, movidos por boas ideias, em se desenhar programas, sempre entusiasmantes. Empregam-se recursos na ordem de centenas de bilhões de reais em programas, adotados pelas redes de ensino de todo país e que atingem milhares de escolas, milhões de professores, dezenas de milhões de estudantes, mas que, ao final, produzem poucos resultados observáveis na evolução da aprendizagem global dos alunos.
De fato, nunca faltaram boas ideias na gestão da educação. Tentamos de tudo um pouco, sempre criando políticas novas, ciclo após ciclo, e a cada novo governo sempre mudando na busca por avançar na estratégia educacional, mas na ponta, a educação não avança como a sociedade precisa.
Não obstante os necessários esforços empregados por alguns estados em programas visando reformas estruturais efetivas, observamos na condução da educação e nas diferentes esferas de governo uma situação-problema típica: boas ideias mal implementadas geram perdas de oportunidades, recursos e tempo. Ou seja, desperdício. Algo com efeitos sociais exponencialmente amplificados, pois “não é sobre o desperdício de dinheiro ou o desperdício de coisas. Esses assuntos contam; mas o principal desperdício é o da vida humana, a vida dos jovens enquanto estão na escola e depois por causa de uma preparação inadequada” [John Dewey]. Agravada, ainda pela evasão estrutural que mantém multidões de jovens fora do sistema escolar nos tempos atuais.
Em tempos de transição, como poderiam ser abordadas algumas questões que nos apontassem para uma gestão educacional que atenda melhor a sociedade brasileira ao final desse primeiro quarto do Século 21?
A primeira sugestão seria lembrar que não é preciso zerar o jogo a cada nova rodada. Modificar ou recriar todos os programas. Em outras palavras, não é preciso uma revolução na gestão educacional a cada quatro anos. É preciso evolução e consistência para melhorarmos continuamente. Temos muito aprendizado que precisa ser extraído dos acertos e fracassos anteriores. Para que isso seja possível, é fundamental desatar os nós institucionais, as travas que matam as boas iniciativas e impedem a difusão das boas experiências e a consolidação das boas práticas. O importante é criar as condições para que a evolução ocorra.
Nesse contexto, quando olhamos para a gestão de redes de ensino, é preciso apostar na descentralização, dar mais autonomia e mais responsabilidade para o gestor da ponta, permitindo que ele faça os ajustes mais relevantes para cada localidade. Para que isso funcione, é preciso desmontar muitas das contradições e disfuncionalidades que encontramos no sistema educacional, os quais refletem conflitos entre regramentos, processos, indicadores e incentivos.
Um exemplo? Que tal começar a exigir efetivamente atenção dos gestores da educação para indicadores de resultado? Atualmente os planos de gestão privilegiam indicadores de estoque (número de matriculas, percentual da população atendida) e índices de fluxo (quantas vagas foram oferecidas, quantos alunos entraram e quantos alunos saíram). São raros os casos em que a gestão de uma rede é de fato avaliada e ordenada pelos resultados de aprendizagem e melhoria dos processos educacionais. Muitas das vezes não fazemos análises dos resultados porque não os internalizamos formalmente na gestão, e não conseguimos buscar melhorias nas ações, porque não definimos ou descrevemos os processos adequadamente. Portanto, não há incentivos concretos para melhorá-los.
Apenas recentemente passamos a pensar mais sistematicamente em fazer políticas públicas balizadas por análise de evidências na educação brasileira. Daí a importância das redes aprenderem com quem avalia e estuda as políticas educacionais. E buscar meios de incorporar as recomendações. Temos que avançar nesse conceito e condicionar que indicadores que avaliem desempenho de processos educacionais e resultados da aprendizagem constem das pautas de responsabilidades dos gestores das redes de educação. Ainda nesse sentido, a iniciativa privada pode ser bem-vinda a ajudar nesse processo de melhoria, desde que devidamente regulada, e remunerada pelo sucesso dos indicadores de processo e resultado além dos frios indicadores de estoque e fluxo de estudantes.
Tais orientações se traduzem, na educação técnica e profissional, em políticas que visem aproximar professores e alunos de desafios tecnológicos reais, que favorecem a geração de renda e oportunidades de trabalho a partir de competências e habilidades desenvolvidas por meio da aprendizagem potencializada pela execução de projetos colaborativos.
Estes são alguns ponto de ancoragem, não exaustivos, que poderiam alavancar melhorias nas práticas da gestão de redes educacionais, os quais, se implementados com eficácia, poderiam evitar que sejamos remetidos de volta aos novos ciclos de estratégias baseados em ideias e entusiasmos, ignorando-se os erros e acertos dos planos e programas anteriores.
Sem continuidade, método, processo, efetivo engajamento e responsabilização dos patrocinadores e apoiadores o sistema educacional não avançará para garantir o adequado desenvolvimento e a competitividade do Brasil, por mais esforçados e dedicados que sejam seus professores e alunos.
Luiz Antonio Tozi é pesquisador visitante do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e professor da FATEC de São José dos Campos.