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Na era Bolsonaro, imprensa vive sob ataque permanente (Bernardo Mello)

“Vocês são uma porcaria de imprensa! Cala a boca!”.

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Bolsonaro fala com imprensa na saída do Palácio da Alvorada
1 de 1 Bolsonaro fala com imprensa na saída do Palácio da Alvorada - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

As frases são de Jair Bolsonaro, em junho de 2021. Em tom exaltado, o presidente se dirigia a uma repórter em Guaratinguetá, no interior paulista. Ela tentava ouvi-lo sobre a notícia do dia: a autoridade máxima do país havia sido multada por desfilar sem máscara na pandemia.

“Esse jornalismo que vocês fazem é um jornalismo podre!”.

Desde que Bolsonaro tomou posse, a imprensa brasileira vive sob ataque permanente. O presidente trata os jornalistas como inimigos. Ofende quem pergunta e tenta demonizar quem publica.

“Cala a boca! Não te perguntei nada!”.

Os ataques presidenciais resultaram numa escalada na violência contra a imprensa. Em 2021, o número de agressões a jornalistas e veículos de comunicação bateu novo recorde no país. Foram 430 casos, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

“Vocês atrapalham o Brasil com esse tipo de notícia!”.

Bolsonaro foi diretamente responsável por 34,2% das agressões. A Fenaj contabilizou 129 situações em que ele agiu para minar a credibilidade da imprensa. Em outras 18, agrediu verbalmente quem tentava entrevistá-lo.

“Minha vontade é encher tua boca de porrada!”.

As investidas obedecem a um padrão. O presidente é mais agressivo com mulheres e jovens repórteres que acompanham o dia a dia do poder. Num dos episódios mais graves, ele ameaçou bater num repórter que o questionou sobre depósitos suspeitos na conta da primeira-dama.

“Você tem uma cara de homossexual terrível!”.

As agressões de Bolsonaro geram um efeito-manada. Ao ouvi-lo, seus seguidores se sentem estimulados a intimidar e atacar a imprensa. Em maio de 2020, dois fotojornalistas levaram socos e pontapés numa manifestação bolsonarista. Estavam na Praça dos Três Poderes, em frente ao palácio presidencial.

“Jornal patife e mentiroso!”.

O clima de hostilidade transformou a cobertura do poder numa atividade insalubre. No terceiro mês da pandemia, os principais veículos foram obrigados a retirar seus repórteres da portaria do Palácio da Alvorada. A medida foi necessária para protegê-los de agressões.

“Vocês são uns canalhas!”.

Os ataques ao jornalismo profissional mancham a imagem do Brasil no exterior. O país ficou em 110º lugar no último Ranking da Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras. Na América do Sul, só apareceu atrás de Venezuela, Colômbia e Bolívia.

“Vá para a p… que pariu!”.

O Dia Nacional da Liberdade de Imprensa nasceu em 1977, quando cerca de três mil jornalistas se uniram pelo fim da censura. Quarenta e cinco anos depois, o Brasil vê sua democracia novamente sob ameaça. Todas as falas grifadas neste texto foram pronunciadas por Bolsonaro. Os insultos a quem tem o dever de informar são mais um sintoma da escalada autoritária no país.

 

(Transcrito de O Globo)

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