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Metade dos eleitores também é “nem Bolsonaro nem Lula” (Itamar Garcez)

O confronto entre petismo x bolsonarismo não é inevitável, indicam as últimas pesquisas de intenção de voto  

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LULA MARQUES/ AGÊNCIA PT E GABRIELA KOROSSY/ CÂMARA DOS DEPUTADOS
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1 de 1 lulabolsonaro-840×562 - Foto: LULA MARQUES/ AGÊNCIA PT E GABRIELA KOROSSY/ CÂMARA DOS DEPUTADOS

A busca pelo moderado desconhecido – ou terceira via – tem crescido proporcionalmente à aparente resiliência do duelo bolsonarismo x petismo, cujo embate final estaria programado para outubro de 2022. A mais recente pesquisa Datafolha representa um alento a este conjunto disperso de brasilianos, indispostos com o extremismo político.

Deixando de lado os números mais badalados, os da intenção de voto estimulada, as opiniões voluntárias apontam que mais da metade dos eleitores não sufragaria nem o atual mandatário, Jair Bolsonaro, nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lideram as enquetes. As manifestações espontâneas são as mais genuínas num cenário incerto e a 13 meses das eleições presidenciais.

Estabilizado, Bolsonaro tem 20% de citações espontâneas, segundo o Datafolha da 3ª semana de setembro. À frente, mas também estável em relação ao último levantamento, Lula tem 27%. A soma das demais respostas (em branco + nulo + nenhum + não sabe + outros) revela que 53% dos eleitores não citam, de antemão, nem um nem outro.

A pesquisa anterior (de julho) recolheu a mesma impressão, 53%, embora distribuída de forma distinta entre as respostas. No levantamento de maio, esta soma foi maior, 60%. Dentro deste contingente (nem Bolsonaro nem Lula) a principal mudança deu-se na resposta com o maior número de escolhas pelos entrevistados, o “não sabe”, registrando 49% (maio), 42% (julho) e 38% (agosto).

Como Lula e Bolsonaro são amplamente conhecidos pela população do Brasil (99%, segundo a Quaest), quem não os cita é porque não vê neles uma opção imediata, primeira. Suas rejeições são um indicativo disto. 38% “não votariam de jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente da República em 2022” em Lula, enquanto 59% têm igual sentimento em relação a Bolsonaro. Registre-se que, para o índice de rejeição, o Datafolha estimula o entrevistado com um cartão nominal.

XP e Quaest confirmam o nem-nem

O número é referendado pela enquete Genial / Quaest, colhida no final de agosto. Nela, 62% dos entrevistados figuram como “indecisos + branco + nulo + não pretende votar + outros”. Destaque-se que, pela metodologia da Quaest, deste total de 62%, 58 p.p. foram classificados como “indecisos”, percentagem estável desde julho de 2021.

Outro levantamento, da primeira metade de agosto, coletado pela XP / Ipespe, revela que metade dos entrevistados não tem como opção na ponta da língua os dois candidatos que ora despontam como favoritos para presidir o Brasil a partir de 2023. Somadas (não sabe + não respondeu + branco + nulo + nenhum + outros), estas respostas totalizaram 50%. Desta percentagem, apenas 6 p.p. referiram-se nominalmente a “outros” candidatos.

Bolsonaro e Lula não são apostas. Ambos mostraram que são bons de votos. Porém, na comparação histórica Lula leva larga vantagem, pois já venceu 2 pleitos e elegeu sua candidata outras 2 vezes. Além disto, hoje não é a vitrine estilhaçada do bolsonarismo (covid-19, desemprego, carestia).

Na comparação de momento, Lula também se encontra na dianteira. Além de mais intenções de votos (espontâneos e estimulados), a rejeição ao lulismo fica abaixo dos 50%, o que lhe garante matematicamente a possibilidade de atingir os 50% + 1 dos votos necessários para se eleger. Lula é rejeitado por 38% (Datafolha), 40% (Quaest) e 45% (XP). Seu principal oponente, Bolsonaro não levaria os votos de 59% (Datafolha), 62% (Quaest) e 61% (XP).

Espaço para a moderação

Candidatos que tencionem ultrapassar a barreira da dupla campeã de votos têm, nas pesquisas, a certeza de que os obstáculos são transponíveis. Uma larga parcela do eleitorado ou não quer um e outro, ou não tem em ambos a opção número um. Além disto, sendo o oponente um desconhecido ou pouco conhecido tem potencial para crescer até mesmo entre bolsonaristas e petistas.

Claro, o postulante terá que se diferenciar das marcas consolidadas do bolsonarismo e do petismo, ambas associadas, em maior ou menor grau, ao extremismo, à corrupção e à ineficiência econômica. A moderação, predicado rarefeito em tempos de política polarizada e historicamente pouco valorizada, é outro atributo diferencial.

Bons e transparentes programas de governo, como sonham os idealistas, são importantes, mas insuficientes. As massas não domesticadas pelo bolsonarismo e pelo petismo procuram alguém em quem confiem para reconduzir o Brasil aos trilhos do desenvolvimento econômico e social – quiçá com uma pacificação possível diante da ira hodierna refletida pelas redes antissociais.

Para isto, este futuro presidente precisará ter gigantesca capacidade para aglutinar apoios na sociedade organizada mas, principalmente, mobilizar eleitores cansados do dualismo pernicioso que deixa o Brasil estacionado no atraso e no ódio. Milhões de brasileiros parecem saber o que não querem.

Itamar Garcez é jornalista e um dos titulares do portal Os Divergentes; https://osdivergentes.com.br/

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