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Lula precisa vencer as eleições de maneira esmagadora (por Juan Arias)

O ex-presidente sabe que, se tirar a presidência de Bolsonaro, este fará o possível para tentar anular os resultados

atualizado 19/01/2022 11:24

Na imagem, Lula aparece centralizado. Ele usa blazer escuro, camiseta azul e gravata vermelha. Há um copo ao lado dele e suas mãos estão para cima e estão fazendo o sinal de "jóia" - Metrópoles Reprodução

Faltam pouco mais de nove meses para as eleições presidenciais no Brasil que, segundo todos os analistas políticos, são anunciadas como as mais dramáticas e com as maiores incógnitas desde a ditadura. Já na primeira pesquisa deste ano, a do Quaest Genial, o ex-presidente Lula da Silva aparece com 45% dos votos contra 23% para Bolsonaro. Ele é seguido apenas pelo ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, com 9%.

O presidente da extrema direita sentiu o golpe e reagiu imediatamente. “Eles querem eleger os corruptos”, disse Jair Bolsonaro com sarcasmo, e voltou a atacar os magistrados do STF que, segundo ele, já decidiram que Lula ganha a eleição. Como Bolsonaro não está disposto a aceitar a derrota, confia que, se Lula vencer, ele terá a sua vitória. O grupo mais fanático, que corresponde a 15% do eleitorado, junto com algumas forças policiais e até o Exército, estaria ao seu lado no caso de uma revolta que ele já está alimentando.

O primeiro sinal foi o anúncio de aumento salarial para as forças policiais, o que já provocou a ameaça de greve geral das demais categorias de funcionários públicos em um momento crítico em que a inflação disparou e aumentou o desemprego.

Tudo isso explica o silêncio de Lula, que por enquanto vê os bois à margem e nem sequer anunciou oficialmente sua candidatura, apesar de todas as pesquisas – sem exceção – lhe garantirem a vitória por uma grande margem de diferença.

Lula, aliás, ainda não apareceu em público em nenhuma das manifestações contra Bolsonaro, e está trabalhando nos bastidores para preparar seu programa de governo e as alianças de que precisará para ter votos suficientes no Congresso. É por isso que ele está tentando construir pontes com os políticos não apenas da esquerda, mas também dp centro, mesmo contra a vontade de alguns dos líderes mais radicais de seu partido. Alguns dentro do PT não veem essa manobra com bons olhos e prefeririam um governo exclusivamente com as forças da esquerda.

Conhecendo, porém, os jogos da política como poucos, Lula mostra-se ciente das dificuldades de enfrentar Bolsonaro. E ande com pés de plumas. Antes, ele precisava contar com partidos conservadores para ter maioria no Congresso.

Lula sabe muito bem que, mesmo que vença as eleições, o presidente fará o possível para tentar anulá-las, valendo-se de um levante se necessário. A questão fica para os militares, que, embora pareçam divididos diante dele , também não querem que Lula ganhe. Não se pode esquecer que Bolsonaro colocou mais de 6.000 militares no Governo e em instituições do Estado.

Daí sua ladainha de que as urnas (que há anos são usadas no Brasil sem que ninguém conteste os resultados das eleições) não são confiáveis, e sua intenção de voltar ao voto impresso, algo que até o Congresso lhe negou.

Lula sabe que, dado o atual ambiente político, não lhe bastará vencer as eleições por uma margem razoável. Ele precisará, mesmo contra o mundo exterior, vencer por uma vitória esmagadora, resolver a disputa no primeiro turno, conforme várias pesquisas anunciam. Assim, qualquer tentativa de contestar as eleições será mais difícil. Lula é obrigado a não pisar no acelerador antecipadamente e a prever todas as manobras possíveis, legais ou ilegais, de um presidente que não hesitará em fazer o impossível para manter-se no poder. Cuidando de cada passo, diz-se que Lula já estaria em diálogo com as Forças Armadas para tranquilizá-las caso volte ao poder.

Bolsonaro entendeu que está perdendo votos à medida que a inflação dispara e a economia enfraquece, e voltou a atacar governadores e prefeitos em suas conversas matinais com um punhado de fiéis. O presidente os culpa pela crise econômica porque, durante a pandemia e apoiados pelo Supremo, eles tomaram medidas para evitar a propagação do vírus. Segundo Bolsonaro, isso quebrou a economia do país. “Covardes e bichas”, chamou aqueles que obedeceram à ciência e às normas de prevenção contra a pandemia que já deixou 630 mil mortos no país.

Outro exemplo de que estamos enfrentando eleições inéditas é o fato de o PT agir com prudência com as viagens do seu líder. Acho que eles temem um possível atentado contra sua vida, principalmente nas cidades do bolsonarismo. Ao mesmo tempo, ressuscitou a história obscura do ataque fracassado a Bolsonaro em plena campanha de 2018, que o impediu de enfrentar debates com os demais candidatos e criou uma aura para ele, principalmente entre os evangélicos, de que Deus havia salvado sua vida, o que contribuiu para sua mitificação e sua vitória.

O assunto havia sido arquivado porque a investigação revelou que o esfaqueamento de Bolsonaro durante uma manifestação de rua foi obra de um homem com transtornos mentais que acabou absolvido e internado em um manicômio. Agora, Bolsonaro quis, no entanto, tirar a poeira desse ataque fracassado abrindo um novo inquérito policial e até revelou a seus seguidores que “um personagem importante poderia aparecer” por trás do ataque, aludindo que a esquerda poderia ser a autora do crime.

Tudo indica, com efeito, que estamos diante de eleições atípicas cujo fim é difícil de adivinhar, já que Bolsonaro não parece resignado a deixar o poder e menos ainda nas mãos de seu grande inimigo. Não se deve esquecer que Bolsonaro sempre defendeu a ditadura militar e reclama que ela não teria matado pelo menos “mais 30 mil pessoas” naquela época. Ele chegou a dizer que não valia a pena perder tempo torturando os esquerdistas, mas que teria sido preferível simplesmente matá-los.

Com todas essas preliminares, o temor dos economistas é que o clima de violência política que paira sobre as eleições possa agravar ainda mais as classes pobres, a quem a disparada da inflação, principalmente de alimentos e combustíveis, faz crescer o descrédito na política como um todo.

(Transcrito do jornal El País)

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