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Home office agrava a opressão do homem sobre a mulher (Gustavo Krause)

Pesquisa do Data Folha (agosto de 2020), revela que 57% as mulheres acumularam tarefas domésticas contra 21% dos homens

atualizado

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Elza Fiúza/Agência Brasil
Violência doméstica
1 de 1 Violência doméstica - Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

“Lar doce lar”, o reinado da mulher, foi uma das muitas mentiras inventadas pelo homem para exercer sobre a mulher, a mais singular e violenta das opressões registradas na história das relações sociais.

A singularidade se expressa sob vários matizes. É a mais antiga: remonta ao “homem da caverna”; a mais permanente, sob a forma disseminada de violência doméstica, que justificou a criação do tipo penal feminicídio; a mais insidiosa porque permeia padrões culturais, institucionais, científicos (o mito do “sexo frágil”) que reforçaram e ainda reforçam a suposta inferioridade feminina.

Cada qual no seu tempo histórico, grandes pensadores contribuíram com o machismo universal. O “galanteio” de Aristóteles é uma “preciosidade”: “O silêncio é a graça da mulher”.

A dominação organizou-se numa sociedade androcêntrica, partindo da gênese patriarcal (o poder do pai, do primogênito, do marido), discriminando a mulher de participar das formas de poder: acesso à educação, ao mercado, sobretudo, ao poder político.

Ao longo da história, a mulher parecia condenada a ser um personagem anônimo. As virtudes da paciência e da coragem persistente operaram uma autêntica revolução. Com paciência, assumiu o cuidado (atributo também masculino) como tarefa central da dinâmica social. E, de outra parte, foi removendo progressivamente os obstáculos com a coragem persistente. A sobrecarga das mulheres e as lentas mudanças no comportamento do homens contribuem para “crise do cuidado” na atualidade.

O roteiro da libertação feminina é longo. Para representar as heroínas históricas e anônimas do cotidiano, cabe registro da notável Olympe de Gouges (pseudônimo), guilhotinada em 1793, por ter escrito a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, afirmando: “Revolução não significa um ato de violência, mas uma mudança de consciência”.

Cada centímetro de avanço, deixou marcas de um caminho sem volta a exemplo de 08 de março de 1857 (data controversa), o movimento sufragista, as várias faces do feminismo e as políticas afirmativas.

Nesta saga, a inovação científica deu enorme contribuição com os métodos anticonceptivos. Cabe a pergunta: e a mulher no mundo digital? Ganha espaço o trabalho remoto, o home office, modalidade que conjuga tarefas profissionais e o espaço doméstico. Um sonho para a mulheres? Na prática, um pesadelo.

Pesquisa do Data Folha (agosto de 2020), revela que 57% as mulheres acumularam tarefas domésticas contra 21% dos homens, acrescidas de estresse em 83% da mulheres.

Não custa ficar atento à modalidade do lar no século XXI, o “Home Sweet Office”, como mais uma armadilha masculina.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

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