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Facilitar o acesso às armas é dar munição ao crime organizado

Segurança pública é dever do Estado

atualizado

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Editorial de O Globo

Uma pesquisa do Instituto Sou da Paz mostra a ligação estreita entre a compra legal de armas e o arsenal apreendido em poder de criminosos. O estudo “Desvio fatal: vazamento de armas do mercado legal para o ilegal no estado de São Paulo”, antecipado no domingo pelo Fantástico, analisou quase 24 mil ocorrências em São Paulo entre 2011 e 2020. Constatou uma coincidência inequívoca entre os modelos furtados, roubados ou extraviados e os que estavam nas mãos dos bandidos. A maior parte do armamento recuperado (53%) estava com a numeração raspada, impossibilitando o rastreamento.

De acordo com o levantamento, a cada dia nove armas legais são desviadas no estado de São Paulo. O furto é a ocorrência mais comum (60%), seguida de roubo (38%) e perda ou extravio (apenas 2%). Detalhe relevante: quase metade dos casos (46%) aconteceu em residências. Isso desmente a ideia de que as armas podem servir para proteger os cidadãos. Não só não protegem, como passam às mãos dos criminosos, alimentando o ciclo da violência. Embora os casos em residências sejam mais frequentes, repartições públicas (como fóruns e delegacias), bancos e empresas de segurança costumam registrar maior quantidade de armas desviadas.

Janeiro e dezembro são os meses que concentram o maior número de ocorrências. De acordo com os pesquisadores, isso pode estar ligado ao período de férias e festas de fim de ano, quando muitos imóveis ficam vazios e mais vulneráveis. O perfil das vítimas mostra que quase metade (46%) tem entre 30 e 49 anos. Quando se analisam as categorias, vigilantes ou seguranças (14,4%) e policiais (10,6%) são os mais visados. Nem profissionais experientes, que recebem treinamento, conseguem impedir furtos e roubos de suas armas. Que dizer do cidadão comum?

O estudo mostra ainda que as armas mais apreendidas pela polícia paulista no período analisado foram o revólver calibre 38 (43% do total), a pistola calibre 40 (21%), o revólver calibre 32 (18%) e a pistola 380 (12%), modelos que coincidem com as mais furtadas, roubadas ou extraviadas. Segundo os pesquisadores, algumas armas compradas legalmente levam menos de 24 horas para ser usadas em crimes.

A pesquisa do Sou da Paz é mais uma a corroborar o absurdo da facilitação do acesso a armas e munições promovida pelo presidente Jair Bolsonaro. Desde que assumiu, ele já editou mais de 30 atos normativos facilitando a compra, o porte de armas e dificultando o rastreamento. Sempre sob o pretexto de que o cidadão tem o direito de se proteger. Como era esperado, o número de registros de armas no país disparou.

A fronteira entre armas legais e ilegais é cada vez mais tênue, como mostra o Instituto Sou da Paz. O cidadão comum, com a intenção de se proteger num país que não lhe dá segurança, acaba fornecendo munição aos bandidos, agravando o problema da violência. Segurança pública é dever do Estado. Terceirizá-la, transferindo ao cidadão tarefa que não é dele, é um crime.

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