Mesmo ante a máxima “escreveu, não leu”, o pau comeu”, o capitalismo, sem dúvida, ainda é o sistema mais flexível e promissor. Tudo indica que, entre versões liberais e estatizantes (seja em democracias ou ditaduras), deve seguir ‘maximizando utilidades’ por mais algum tempo.
Reagan, dizia que “o problema é o governo”, para justificar as boiadas que o Tio Sam deixou passar naquelas bandas. Contudo, convém conter os excessos.
Aqui, não é diferente. As reformas prometidas perdem a vez para as boiadas e bailes, enquanto o Estado vai minguando, em nome de uma democracia para poucos e capitalismo para alguns.
A ordem é reduzir o custo, custe o que custar. Gastos sociais, cultura, segurança, educação, meio ambiente são tratados como ameaças ao teto de gastos, este sim, sagrado.
Os psiquiatras bem poderiam catalogar essa conduta como Tof- transtorno obsessivo fiscal, que acomete nossos neoextrativistas, de mãos dadas com a meninada de Chicago.
No mundo liberal brasileiro, o destino da segurança pública preocupa. A promessa de eficiência estatal vem associada a uma ideologia de brutalização da paz. Nosso iluminismo não se completou.
Se o caso é de polícia, basta uma tropa sofrível, algumas armas e viaturas. Está resolvida a participação do Estado. Se a violência aumenta, faz-se uma operação no morro e blitz para brasileiro ver. Ressocialização, nem pensar.
Nesse contexto, é oportuno o exemplo das festas chamadas de pancadões, dor de cabeça de governantes que ocupa o noticiário, juntando centenas de jovens, barulho e obstrução do trânsito.
Na verdade, os pancadões servem à perfeição como laboratório para ação do Estado na segurança, oferecendo duas abordagens.
De uma, segurança não é sempre, e nem apenas, caso de polícia. Ao contrário, é questão municipal, de prevenção e antecipação ao caso de polícia.
De outra, segurança é assunto vasto, que exige planejamento multidisciplinar e ação integrada. Pressupõe um Estado com prioridade social e não um Estado mínimo.
Assim, não é aceitável que essas festas virem caso de polícia. Devem ser previstas e tratadas no âmbito de um plano municipal de segurança ou desenvolvimento.
A violência, de modo geral, segue padrões: mesmas pessoas, mesmos locais e horários. Por sua vez os jovens também têm seu padrão – procuram diversão, convivência, dança, renda informal, entre outras atividades socializantes da juventude.
De nada adianta atribuir o crime a uma tendência desordeira, coisa de negro, de pobre, de periferia. Cabe às políticas públicas oferecer opções de convívio, atividade, aprendizado e trabalho que preencham o vazio de cidadania deixado pelos interesses naturais que o jovem não vê contemplados na sua cidade.
A Econometria de plantão precisa conferir se é realmente mais lucrativo – e para quem -, economizar em escolas e praças para gastar com armas e celas.
Felipe Sampaio, co-fundador e colaborador do Centro Soberania e Clima (CSC); https://capitalpolitico.com/