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Esperançar com Darcy Ribeiro

Exposição no Sesc 24 de maio, em São Paulo, fica em cartaz até junho de 2023,

atualizado

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Foto em preto e branco de Darcy Ribeiro. Ele está sentado em uma poltrona - Metrópoles
1 de 1 Foto em preto e branco de Darcy Ribeiro. Ele está sentado em uma poltrona - Metrópoles - Foto: Reprodução

Visitar a exposição “Utopia Brasileira” – Darcy Ribeiro 100 anos” é se reconectar com um intelectual apaixonado pelo Brasil. Um homem que tentou decifrar e construir nossa identidade, que digeriu nossos desafios estruturais – como o racismo, a violência e a desigualdade social – para apontar um projeto de nação. Depois de quatro anos de bolsonarismo e a tragédia de oito de janeiro, é um alento.

A exposição, em cartaz no Sesc 24 de maio, em São Paulo, até junho de 2023, reúne vídeos de depoimentos de Ribeiro – como sua entrevista ao Roda Viva – frases e obras de arte, sobretudo relacionadas à temática indígena. Um dos destaques é uma instalação audiovisual de 360 graus sobre o kuarup.

A curadora Isa Grinspum reverencia a contemporaneidade de sua obra e afirma que ele não está morto: “eu quis trazer a potência e a atualidade de muitas das coisas que ele falou, sobretudo se pensarmos no que estamos vivendo hoje no Brasil. Darcy Ribeiro é extremamente atual, e essa é uma exposição sobre o Brasil”.

Apesar de promover a miscigenação como força motriz do país e fundação de nossa identidade, o autor de “O Povo Brasileiro” reconhece a violência como parte integrante de nossa história. “O processo de formação do povo brasileiro, que se fez no entrechoque entre o índio, o negro e o branco foi altamente conflitivo. Pode-se afirmar que vivemos praticamente em estado de guerra latente”.

Educação e Cultura foram destruídas nos últimos quatro anos. Escolas militares, ensino em casa, fim de investimentos em projetos culturais. Tentaram soterrar a diversidade desse país. Criatividade e educação pública de qualidade, esse era o projeto de Darcy. Na sua trajetória militante foi ministro da Educação do governo Jango, fundou e foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília, criou o CIEPs no Rio de Janeiro. Infelizmente, uma de suas frases mais conhecidas se transformou em profecia: “Se os governadores não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios’.

Preso e exilado pelos militares, disse que “A ditadura nos seus vinte anos de despotismo, tudo degradou. O que era bom, estragou. O que era ruim piorou”. A declaração também serve ao governo Bolsonaro?

Darcy sonhava com um Brasil desenvolvido, envolvido pela justiça e pela democracia, respirando uma solidariedade multiétnica. Ele defendia que somos uma potência de criatividade artística e cultural, mas precisamos dominar a da tecnologia para se transformar em uma potência econômica autossustentável. “A utopia brasileira é singela: comida, casa, escola e remédio”. Ainda nos falta muito.

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