Difícil não recorrer ao folclore político mineiro, que fala das velozes mudanças das aparências das nuvens no céu, diante da postura atual do senador Jaques Wagner (PT), que vai liderar a bancada governista no senado – ex-governador da Bahia e um dos coordenadores nacionais da campanha presidencial vencedora – no tabuleiro estratégico do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que toma posse amanhã (01/01/23), governo que, de fato, começou bem antes do último caminhão de mudanças, do tempestuoso, agora quase mudo inquilino da residência oficial, Jair Bolsonaro, deixar o Palácio da Alvorada e seguir para o seu futuro endereço, na zona do Jardim Botânico de Brasília, para afazeres ainda desconhecidos, a partir da semana que vem.
“Olho vivo, que cavalo não desce escada”, diria o colunista famoso de O Globo, Ibrahim Sued, se ainda estivesse por aqui.
E retorno ao senador Wagner, pois não quero me perder no caminho, ainda repleto de surpresas e armadilhas, a exemplo do caminhão com carga de explosivos, encontrado perto do aeroporto de Brasília, que sugere repelente montagem de ato terrorista na capital, palco da festa cívica e cultural para a posse do novo presidente. Patranha golpista de última hora.
Lembro: pouco antes da campanha do candidato da frente democrática começar a engrenar, o senador pelo PT da Bahia – que se mudara para São Paulo, para atuar na linha de frente do embate presidencial – desembarcou em Salvador, de surpresa, para dar a célebre entrevista na Rádio Metrópole, (ao apresentador Mário Kertész, ex-prefeito da capital), que demoliu as articulações até então realizadas, e virou tudo de pernas para o ar. No seu estilo típico – voz mansa, sem gritos, de articulador reconhecido e provado, em outras crises. Com informações colhidas diretamente, junto ao amigo Lula, e quase todas as cartas nas mãos, na entrevista que “correu solta”, nas passagens principais do recado a ser dado.
Destaco um trecho referencial: “Lula deseja que Rui Costa permaneça onde está, à frente do governo estadual, e não renuncie para concorrer ao Senado, passando o cargo para o vice João Leão. Ele disse que tem posto ministerial e de primeiro escalão para o governador, caso seja eleito”, adiantou o entrevistado. E, em seguida: “Lula gostaria também que Otto Alencar não disputasse o Palácio de Ondina (como já estava engatilhado ), pois considera o senador, pelo PSD, um dos maiores e melhores parlamentares do país, e quer contar com ele no Congresso”, pontuou . Quanto a mim (você sabe, não é Mario?), Lula conhece o meu livre trânsito pelas principais embaixadas em Brasília, e da minha facilidade na conversa com embaixadores, e pensa em aproveitar em seu governo o que ele vê como uma de minhas habilidades na política”, contou . De tudo, só a parte relativa ao próprio petista não se cumpriu (até aqui). Wagner tem dito e repetido que prefere continuar no Senado”, pois “é no Congresso onde as coisas de interesse para o país acontecem, diz, aparentemente desapegado de outros interesses no poder. Mas é indicação dele o nome de Bruno Monteiro (seu assessor de confiança no Senado), para secretário estadual da Cultura no governo de Jerônimo Rodrigues. Na política baiana este é um cargo crucial. Há até quem aposte, desde já, que é no céu de Salvador e da Bahia, que passam as nuvens regentes do destino de Jaques Wagner. A conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br