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Com a palavra, o Rei Momo (por Gustavo Krause)

Vai haver ou não carnaval? Esta é uma questão relevante para os brasileiros. Na raiz da dúvida, pesam razões políticas e sanitárias

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Rei Momo
1 de 1 Rei Momo - Foto: Reprodução

O Brasil está pagando um preço muito alto pelo negacionismo e gestão temerária da pandemia. O povo deu um exemplo admirável ao estender, voluntariamente, seus braços para a vacinação. O carnaval não pode ser objeto de interesses que ameacem a saúde pública.

Em 2023, o Rei Momo voltará ao poder Anarcoetílico em grande estilo.

Vai haver ou não carnaval? Esta é uma questão muito relevante para os brasileiros. Na raiz da dúvida, pesam razões culturais, políticas, econômicas e sanitárias. Por que não escutar, sua Majestade, o Rei Momo com longa experiência histórica, mimetizado em diferentes personagens?

Pedi audiência e fui prontamente atendido. Antecipo ao leitor: foi uma experiência maravilhosa. Momo vive num pequenino país – o Carnavália, Nação-Museu dos carnavais. Lá todos são iguais perante a alegria, a felicidade e respiram o ar saudável da fraternidade. O Rei mora numa espécie de Olimpo, abrigo dos deuses gregos. Governa com Três ministros – Arlequim, Pierrô e Colombina – e um Ministério: o Ministério para Assuntos Divinos e Maravilhosos.

Momo não se descuida do que acontece no que ele chama de um “mundo só”. É um cidadão “Glocal”. Monitora tudo de sua sala de situação com a mais avançada tecnologia, mas recebe visitas em audiência no “Salão da Realeza”. Ali tudo representa e transpira a tradição monárquica – Trono, Cetro, Coroa, e a indumentária, segundo alguns pesquisadores, inspirada nos trajes do Duque de Mântua, personagem da ópera, Rigoletto.

– Evoé – bradou, simpaticamente, Momo, evocando o grito das bacantes ao saudar Baco e Dionísio (deuses romano e grego do vinho e grandes festas – bacanálias e saturnálias)). Sei que veio me ouvir sobre uma dúvida que paira sobre as tradições carnavalescas. Você vem de um País que me adotou e me confiou o governo Anarcoetílico durante 4 dias. Uma honra para quem vem de longe.

(Breve interrupção para servir filhó ou filhós, o doce do carnaval e que faz parte do cardápio ibérico e pernambucano).

Prosseguiu: – Acusam-me de excessos, a gula, o que é verdade. Como disse, venho de longe e carrego, em todas as formas que me deram, irreverência, sarcasmo e delírio. Tirava sarro com outros deuses. Expulsaram-me do Olimpo. Sou filho de Nix, deusa dos mistérios noturnos. Nasci mulher. Mas as culturas me transformaram em homem. O que importa, Krause, é que subverto regras, inverto papeis sociais, mas estabeleço uma ordem dentro da desordem: diversão, fantasia e o triunfo do sorriso sobre a lágrima.

– Majestade, o que digo às pessoas? – Meu caro, o Brasil está pagando um preço alto pelo negacionismo e gestão temerária do governo. No entanto, o povo brasileiro deu um exemplo admirável ao mundo quando estendeu os braços para receber as vacinas. O carnaval não pode ser objeto de interesses que afetem a saúde pública. Na imagem poética de Chico Buarque, carnaval é uma “ofegante epidemia”. Mas não sufoca. A pandemia sufoca e mata. Paciência: sem carnaval e riscos, até 2023. Um abraço na família do querido Enéas Freire, fundador do Galo da madrugada. Neste dezembro, fará 100 anos de eternidade.

 

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda 

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