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Assalto mediante trem bala (por Eduardo Fernandez Silva)

A Copa do Mundo no Brasil foi um assalto à população

atualizado 09/03/2023 0:07

Jogadores da Seleção Brasileira de futebol em partida da Copa do Mundo de 2014. Da esquerda para direita: Oscar, David Luiz e Ramires Mike Egerton/PA Images via Getty Images

Hoje, quase todos concordam que realizar a Copa do Mundo no Brasil foi um assalto à população: obras inúteis ou inconclusas, superfaturamentos etc. À época, marqueteiros, a soldo dos que ganharam com a Copa, celebraram o projeto, que seria fator de “desenvolvimento”, e obtiveram apoio. É da mesma época a ideia do trem de alta velocidade (TAV), ou trem bala Rio-São Paulo, recentemente ressuscitado. Face a tantas carências da população brasileira, por quê, para quê? Quem está por trás dessa nova tentativa de surrupiar verbas públicas, sem claros benefícios para a população? O que levou a Agência Nacional de Transporte Terrestre a conceder, de surpresa e sem prévio debate público, autorização, por cem anos, a uma empresa para implantar e operar o tal TAV?

Para realizar a COPA, dizia-se que todos os investimentos seriam privados; nada de usar nossos impostos! Então, a mesma balela foi dita com relação ao TAV, e é repetida agora! O fato é que em nenhum local onde há trens de alta velocidade, seja Europa ou Ásia, sua implantação foi feita sem grande aporte de recursos de impostos. No Brasil, por que seria diferente???

A população brasileira sofre muitas carências, e nenhuma delas será reduzida com o picaretíssimo projeto do TAV. O adjetivo cabe porque, lá antes da Copa, quando foram gastos milhões de reais de impostos para tentar viabilizar a proposta, o documento que pretendida justificá-la, entregue à Câmara dos Deputados, tinha menos de vinte páginas!! O projeto mais aprofundado, que estaria guardado na VALEC (problemática estatal envolvida em diversas operações, digamos, obscuras), falaram seus dirigentes então, era sigiloso! Outro agravante é que do currículo da Italplan, empresa italiana que elaborou o “projeto” e afirmava não ser necessário recurso público, constavam apenas três projetos ferroviários: a estação do TAV no Rio, a de São Paulo e o projeto do TAV brasileiro! E autoridades governamentais, candidamente (?), aceitaram a ideia, contra toda a evidência internacional! Hoje, sem qualquer debate público sobre o TAV, repete-se o mantra…

Houve, anteriormente, outra proposta de trem de alta velocidade, também suspeita. No caso, ligando Brasília à Goiânia, que chegou a ser apelidado de “expresso-pequi”. Na justificação desta proposta houve, inclusive, grosseira falsificação de dados: inflaram tanto o número (supostamente observado) de passageiros entre as duas cidades que, a ser verdade, teria havido ônibus, sempre lotados, partindo de ambas as capitais a cada cinco minutos! Felizmente, antes de iniciadas as obras, a proposta descarrilhou, assim como a Rio-SP!

Agora, já bem mais avançados no século XXI, retorna a mesma infeliz ideia. Quem está por trás? Não seria melhor o governo se concentrar em minimizar os problemas concretos da maioria da população, como a miséria, a fome, a falta de moradia, educação, segurança e saúde?

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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