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Aglutinador (por Cristovam Buarque)

Os antigos adversários de Lula agora perguntam por que esperar o dia 30, se o Brasil pode resolver a eleição no dia 02 de outubro

atualizado

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Fábio Vieira/Metrópoles
A plateia recebeu pequenas bandeiras do Brasil que foram agitadas em diversos momentos
1 de 1 A plateia recebeu pequenas bandeiras do Brasil que foram agitadas em diversos momentos - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Nesta semana, Lula fez reunião de ex-candidatos a presidente que disputaram com ele no passado, e agora o apoiam desde o primeiro turno. A principal razão para isto, é que desta vez o segundo turno será contra o abismo que representa a reeleição do atual presidente. Os antigos adversários de Lula agora perguntam por que esperar o dia 30, se o Brasil pode resolver a eleição no dia 02 de outubro. Evitando inclusive o imponderável que pode ocorrer durante as quatro semanas entre os dois turnos.

Este foi o principal, mais urgente e mais visível recado daquela reunião. Mas havia outro implícito: mostrar que além da unidade eleitoral contra a reeleição, há um reconhecimento e um otimismo diante da capacidade de Lula para aglutinar forças divergentes.

As pessoas se perguntam como seria possível reunir ideias de Boulos e de Meirelles, porque não percebem que acabaram os blocos ideológicos monolíticos. Assim como as pessoas monoliticas ideologicamente. Não há mais o conservador geral nem o progressista geral. Há pessoas e militantes radicais nos costumes, e conservadores na questão da responsabilidade fiscal; há radicais no compromisso com a educação de qualidade igual para todos, que são defensores do estado eficiente, diferenciando conceito de público do conceito de estatal. Outros que são radicais na estatização, mas conservadores nos costumes, ou vice-versa, progressistas nos costumes e privatistas na economia. Não se pode dizer que acabou a esquerda e a direita, mas acabou o indivíduo e o partido que monolítico de esquerda ou de direita em todas as questões – econômicas, sociais, ecológicas e costumes.

O Lula tem a capacidade de reunir auxiliares progressistas no social com conservadores nas finanças, exigindo do primeiro tempo para realizar suas metas sem ferir a responsabilidade fiscal e dos outros que encontrem fontes alternativas para financiamento das necessidades sociais, sem ferir o teto de gastos. E quando estas fontes não existirem, por serem inviáveis politicamente, Lula tem condições de pedir paciência e definir estratégias de médio e longo prazo para realizar as missões que o Brasil precisa. A primeira delas, superar a pobreza e distribuir renda. A combinação entre posições diferentes é um desafio para o próximo governo, e Lula é o mais preparado para juntar os Boulos da justiça social, com as Marinas da ecologia e com os Meirelles da responsabilidade fiscal.

A grande qualidade do Lula não é ser o mais preparado para derrotar Bolsonaro, é ser o melhor preparado para governar em um momento de altas aspirações sociais, com limites ecológicos e restrições fiscais. Porque ele é um aglutinador.

Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador

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