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A sucessão ganha novo desenho (por João Bosco Rabello)

Os perfis dos candidatos que surgem agora – Pacheco, Dória, Leite e Moro – autorizam a conclusão de que o mais afetado é Bolsonaro

atualizado 28/10/2021 8:42

Filiação do presidente do senado, Rodrigo Pacheco, ao PSD 7 Rafaela Felicciano/Metrópoles

A filiação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ao PSD é o primeiro de quatro eventos políticos até o final de novembro, a fechar o ciclo eleitoral polarizado entre os dois candidatos postos até aqui – Bolsonaro e Lula.

A filiação de Pacheco é um pré-lançamento de sua candidatura a ser formalizada mais adiante. Na sequência estão previstas outras três – a do PSDB, disputada entre João Dória e Eduardo Leite, governadores de São Paulo e Rio Grande do Sul, respectivamente. A elas se soma a de Sérgio Moro, cuja filiação deve ser vista como indício de candidatura presidencial.

Todas essas candidaturas são para valer, embora não se deva descartar, mais à frente, uma aliança de centro em torno de uma delas. A hipótese esbarra no caráter irremovível dado às suas empreitadas por Dória e Ciro Gomes, que concorre desde 2018.

Assim, vista com olhos do presente, pelo menos como  uma alternativa única à polarização -, se encerra o enredo teórico da chamada terceira via, epíteto cunhado muito mais para não permitir o caminho livre às candidaturas de Bolsonaro e Lula do que pela crença em sua viabilidade.

Os perfis dos candidatos que surgem agora – Pacheco, Dória, Leite e Moro – autorizam a conclusão de que o mais afetado no contexto da polarização é o presidente Bolsonaro. Os quatro se situam na órbita entre o centro e a direita – Leite com alguma tinta levemente mais progressista.

Essa coloração estimula uma possível estratégia de que a candidatura de Pacheco está posta também como atrativo a uma composição com o ex-presidente Lula, sempre especulada e jamais desmentida por seu patrocinador, o presidente do PSD, Gilberto Kassab.

Kassab tem executado com aplicação uma estratégia que visa prioritariamente a ampliação de sua bancada parlamentar e a expansão territorial do PSD, já robusta, com o objetivo de tornar-se, mais que protagonista da sucessão, um fiel de balança também para o futuro governo eleito.

O previsível desgaste do presidente Bolsonaro no último ano de seu mandato, no qual não ostenta realizações – antes, muitos conflitos -, pode conspirar para perda ainda maior de vigor eleitoral, apesar do empenho e aprovação de recursos para fortalecê-lo.

A característica não sustentável do auxílio aprovado ao custo do rompimento do teto de gastos tem no agravamento da inflação seu efeito colateral mais danoso. Com uma força de centro em formação, ungida pelos respectivos partidos que as patrocinam, perde terreno -e, mais que isso -, vê formando-se em seu redor uma perspectiva concreta de aliança da esquerda com o centro.

Ainda concorre para um cerco mais efetivo o resultado da convenção do PSDB. Qualquer que seja o resultado, mexe no cenário eleitoral. Em caso de derrota, Dória se abrigará em outra legenda, se quiser insistir na sua meta presidencial.

Se vitorioso o governador paulista, Geraldo Alckmin deverá disputar sua sucessão pelo novo partido resultante da fusão do DEM com o PSL e continuará tendo o apoio e a benção de Kassab, que já lhe deu essa garantia.

Nessa hipótese, Leite é o único que poderá abrir mão da disputa para se tornar aliado importante para outra candidatura, como quer parte do PSDB que prefere investir no fortalecimento da bancada.

Especialmente a presença de Moro no cenário, mesmo que concorrente a outro cargo, agrava a situação por trazer intacta a bandeira do combate à corrupção e com o argumento de que Bolsonaro a traiu. Tem potencial para causar estrago.

Moro, porém, terá mais dificuldades de alianças pois sua consolidação como o grande líder da Lava Jato o afasta de outras candidaturas que contrastam com seu discurso. Seu embate é direto com Bolsonaro e Lula, mas entre os excessos da operação está a (des) qualificação da política pela sua caracterização como instrumento de corrupção generalizada.

Não por acaso, a indicação ao Supremo Tribunal Federal de André Mendonça, tido como lavajatista pelos parlamentares, mingua no Senado com sua rejeição cozinhada em banho-maria pelo presidente da CCJ, Davi Alcolumbre. O senador não teria condições de sustentar o longo boicote à realização da sabatina sem o apoio da maioria da Casa, ainda que velado.

 

João Bosco Rabello escreve no Capital Político 

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