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A Social-Democracia perdida no Brasil (por Ricardo Guedes)

PT e PSDB com Fernando Henrique e Lula bem que tentaram

atualizado 17/03/2023 1:13

Imagem colorida dos presidente Lula e Fernando Henrique Cardoso no dia da posse de Lula. Esse usa a faixa presidente e ambos sorriem, de cima do Planalto - Metrópoles Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Brasil perdeu a sua chance de ser uma Social-Democracia, dentro de certos limites, formada pelo PT e PSDB com Fernando Henrique e Lula. Hoje, os ânimos continuam acirrados no meio social, com o bolsonarismo, mesmo sem Bolsonaro, como movimento fascista emergente, com poucas possibilidades de consenso.

São dois os sistemas políticos e econômicos que geraram países estáveis no mundo moderno. Primeiro, nas economias de mercado com forte participação parlamentar e distribuição de renda, como na Inglaterra e nos Estados Unidos, Segundo, nas Social-Democracias Europeias, onde as classes chegam a um acordo político no qual as elites cedem para programas sociais e a classe de trabalhadores aceita as regras do jogo, com rotatividade no poder, notadamente nos países Nórdicos. Os países têm que necessariamente apresentar crescimento no PIB e distribuição de renda, dentro dos limites da responsabilidade fiscal.

Tudo vinha bem com Fernando Henrique e Lula na política nacional. Fernando Henrique introduziu o Plano Real, que estabilizou a moeda com efeitos redistributivos, com o PIB variando de US$ 0,3 trilhões em 1993 para US$ 0,9 trilhões em 1998, caindo para US$ 0,5 trilhões em 2002 devido a crises cambais. Lula implementou política de crédito para as indústrias e programas sociais ativando o mercado, levando o PIB de US$ 0,5 trilhões em 2002 para US$ 2,2 trilhões em 2010. A faixa presidencial foi passada cordialmente de Fernando Henrique para Lula, como ato simbólico de significância para o país.

Três pontos, entretanto, afetaram a semente da Social-Democracia brasileira. Primeiro, as políticas econômicas equivocadas após 2010 e o impeachment de Dilma, que desestabilizaram a economia. Segundo, os episódios de corrupção minando a credibilidade da classe política e os rumos da Lava Jato, que criminalizou não somente as pessoas físicas mas também as pessoas jurídicas, fato inédito no mundo, atingindo fortemente o setor de construção então responsável por 8% do PIB. Terceiro, nas últimas duas décadas o Brasil não investiu em tecnologia e educação de qualidade, sem aumento da produtividade na produção. De 2000 a 2021, o PIB mundial aumentou de US$ 33,4 trilhões para US$ 96,5 trilhões; os Estados Unidos de US$ 10,3 trilhões para US$ 23,3 trilhões; a China de US$ 1,2 trilhões para US$ 17,7 trilhões; o Brasil de US$ 0,7 trilhões em 2000 para US$ 2,6 trilhões em 2011, caindo para US$ 1,6 trilhões em 2021.

A presença de Alckmin no Governo expressa a intenção de composição. Na África do Sul, Mandela construiu política de consenso com o PIB crescendo de US$ 147 bilhões em 1993 para US$ 154 bilhões em 1998 dentro do processo de reconciliação, com US$ 419 bilhões em 2021. Que o Brasil corra no sentido do consenso social, com crescimento e distribuição de renda nos limites da responsabilidade fiscal, para que possamos ter um país melhor e tranquilidade para trabalhar.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus