A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar o caso das joias dadas de presente pela Arábia Saudita ao governo brasileiro. Pela lei, as joias deveriam ser declaradas à Receita Federal e encaminhadas para o acervo público da Presidência da República.
Mas não foi isso o que ocorreu. O #TBT do PNB relembra o episódio em que o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon recusou uma joia destinada à mulher dele. Lição que não foi aprendida pelo ex-capitão Bolsonaro na condição de presidente da República.
No livro Rondon Conta Sua Vida, de Esther de Viveiros, o próprio Marechal lembra a história. Cândido Rondon estava na cidade de Manaus, capital do Amazonas, e foi convidado pela Associação Comercial local para um banquete.
Os comerciantes queriam homenagear Rondon e sua equipe porque estavam entusiasmados e muito otimistas com a conclusão da ligação, por terra, de Manaus a Cuiabá, o que certamente traria benefícios para a economia local.
Como forma de agradecimento pelo feito, a Associação Comercial ofereceu um colar de pérolas à mulher de Rondon, Francisca Xavier da Silva Rondon, conhecida como dona Chiquita. Mas Marechal Rondon recusou o valioso presente. Estas foram suas palavras:
“Meu coração transborda de reconhecimento e vivo afeto porque como irmãos fomos recebidos, cuidando todos em nos fazer esquecer tudo quanto sofremos, ao calor de uma hospitalidade de que tem a nossa gente o segredo. Não posso, entretanto, aceitar o presente com que quiseram mimosear minha esposa, sentindo que uma homenagem a ela é o mais seguro meio de me tocar. E corações capazes dessa delicadeza compreenderão certamente o que se passa no meu. As pérolas do afeto que me quisestes testemunhar são a joia mais preciosa e que guardarei para sempre. Não é, entretanto, possível à minha esposa, esposa de um simples oficial, usar as pérolas de um tão valioso colar, em desacordo com o nosso modesto padrão de vida. Aceitai-o, pois, de novo, com os meus mais comovidos agradecimentos”.
Uma pessoa que estava presente no banquete ficou admirada com o que ouviu. Ao final das palavras de Rondon, essa pessoa disse que queria adquirir o colar para guardá-lo como lembrança daquele “momento extraordinário”. Segundo o livro, o cidadão que acabou ficando com o colar de pérolas foi identificado apenas como Levy.
No caso atual, das joias oferecidas como presente pela Arábia Saudita ao governo brasileiro, o que se questiona são os encaminhamentos dados a elas. Uma das caixas contendo relógio com pulseira em couro, par de abotoaduras, caneta rose gold e um rosário islâmico, todos da marca suíça Chopard, ficou com Bolsonaro.
O tenente-coronel do Exército Mauro Cid confirmou ao Estadão que as joias desse estojo foram entregues pessoalmente a Bolsonaro e estariam no acervo privado dele. Essa apropriação é ilegal.
A segunda caixa, contendo um colar, um par de brincos, relógio e anel estimados em R$ 16,5 milhões, foi apreendida pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos. O presente seria para Michelle Bolsonaro.
Bolsonaro, que certamente desconhece o episódio do “Patrono das Comunicações do Exército Brasileiro – Marechal Rondon”, tentou reaver a caixa enviando emissários para pegar as joias às vésperas do fim do mandato. A tentativa fracassou