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A inviabilidade da 3ª via nas eleições presidenciais (Ricardo Guedes)

Nas eleições presidenciais brasileiras, tivemos dois exemplos típicos de eleição da 3ª via: Bolsonaro e Collor

atualizado

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1 de 1 Pessoa depositando voto - Foto: krisanapong detraphiphat/ Getty Images

O conceito de 3ª via em processos eleitorais tem sido erroneamente utilizado no Brasil. O candidato de 3ª via não significa um terceiro candidato que se opõe aos dois líderes nas pesquisas ou pleito eleitoral. O conceito de 3ª via, tal qual originalmente formulado, diz respeito ao candidato que, diante do esgotamento do paradigma político da situação e da oposição, surge como alternativa de solução nas eleições. Na teoria de Robert Lucas sobre o mercado eficiente, prêmio Nobel de Economia em 1995, os atores podem agir aleatoriamente, mas o mercado, dentre as alternativas existentes, seleciona o mais eficiente. Assim é na economia, e na política. A recente eleição de Michelle Wu como prefeita de Boston é um caso típico de 3ª via, após 200 anos de domínio branco e masculino dos candidatos com o esgotamento do paradigma do establishment e das oposições.

Nas eleições presidenciais brasileiras, tivemos dois exemplos típicos de eleição da 3ª via. A primeira com Collor em 1989, com o esgotamento do PMDB por um lado, e da oposição com Brizola por outro. A segunda com Bolsonaro em 2018, com o esgotamento do PT por um lado, e do PSDB como oposição por outro. Em ambos os casos, os candidatos que venceram as eleições não eram inicialmente percebidos como tendo qualidades, mas, nas palavras de Georg Simmel, os liderados precisam de um líder que lhes dê o norte para que possam se eximir da responsabilidade da ação social, untando o líder de qualidades que ele não tem se assim necessário. Assim foi com Collor, e com Bolsonaro.

Hoje, o cenário não é de esgotamento de Bolsonaro e de Lula. Muito pelo contrário, o cenário é de esgotamento de Bolsonaro, com alta rejeição, na péssima gestão econômica com o PIB caindo de US$ 1,9 trilhões em 2018 para US$ 1,3 trilhões em 2021 em dólares correntes, e erros no Covid, educação, meio ambiente, relações exteriores, área cultural. Por outro lado, Lula é reintroduzido no cenário político como alternativa de solução, com o PIB em dólares correntes aumentando de US$ 700 bilhões em 2002 para US$ 2,2 trilhões em 2010, e benecias sociais, apesar da corrupção apontada na Lava Jato e a sequência de Dilma. É como se as eleições tivessem hoje sido adiantadas pelo eleitor. A diminuição das diferenças entre Lula e Bolsonaro nas pesquisas neste início de ano, da ordem de até 5% prevista no ajuste das proporções do voto masculino e feminino, são consistentes, diminutas, e não suficientes para a alteração do quadro.

Doria, com 2% nas pesquisas, aventa a possibilidade de não ser candidato, jogando a decisão para os próximos três meses. Moro, com 8% nas pesquisas, muda de partido e abre mão de sua pré-candidatura à presidência neste momento. Os candidatos patinam. Como diz o dito popular, “mineração e eleição só depois da apuração”. Mas é difícil a situação da 3ª via nas eleições presidenciais de 2022.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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