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A descoberta da Amazônia (por André Gustavo Stumpf)

O governo brasileiro precisa assumir uma posição definitiva sobre o que fazer da Amazônia

atualizado

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Centenas de balsas atracaram no Rio Madeira
1 de 1 Centenas de balsas atracaram no Rio Madeira - Foto: Greenpeace

A invasão de centenas de garimpeiros que tomaram de assalto o rio Madeira, colocaram suas barcaças lado a lado e ameaçaram interromper o trânsito de navios entre Manaus e Porto Velho, teve o mérito de alertar o país para riquezas e misérias daquele território.

Aquele rio é o único caminho viável para alcançar a capital do Amazonas. A alternativa é o avião. Ou a BR-319 que foi construída, depois abandonada por pressão de ambientalistas e, agora, voltou a receber atenção do governo federal. Mais ainda está intransitável.

Será muito difícil conter o ímpeto deste desbravador que utiliza mercúrio para conseguir separar o ouro de outros metais que surgem nos rios. Este é um fenômeno econômico.

Grupos investem bom dinheiro na aquisição de balsas que utilizam bombas para sugar o leito do rio, processar o que vem do fundo e devolver a areia lavada depois do tratamento com o produto que contamina as águas.

O governo brasileiro precisa assumir uma posição definitiva sobre o que fazer da Amazônia. A região é muito rica. Ao mesmo tempo trata-se de magnífica floresta tropical, sem similar no mundo.

Europeus mantêm um olhar vigilante na região. Satélites de todos os tipos e tamanhos fiscalizam não só o desmatamento, mas a existência de poderosas fontes de recursos naturais. O ouro é o mais simples e lucrativo deles. Basta alguns equipamentos e se lançar na aventura.

Os garimpeiros levam progresso a áreas mais remotas do Brasil. Eles compram comida, bebida, precisam de remédios, de atendimento médico e remuneram muito bem as meninas que sempre estão perto dos acampamentos.

John Steinbeck disse sobre a época da corrida do ouro na Califórnia que primeiro chegam os pioneiros, depois os padres, em seguida as prostitutas e logo após os advogados, que tomam tudo dos primeiros.

Na Amazônia não é diferente. O homem que avança dentro da mata arrosta os perigos e paga o preço. As comunidades os protegem. Eles são financiados por empresários nacionais e estrangeiros.

Existe outra face interessante na região. Há petróleo na Amazônia. E de boa qualidade. A extração exige muitos cuidados. Urucu é a província petrolífera no município de Coari, campo isolado aonde só se chega de avião ou de barco. O petróleo de Urucu vem da profundidade de 2.300 metros é um tipo especial, leve, rico em produtos nobres, muito valorizado. É o melhor petróleo produzido no Brasil.

A extração de petróleo não é grande, mas dá para abastecer boa parte da Amazônia. Cerca de 100 mil barris/dia. Mais do que petróleo, Urucu produz quase todo o gás de cozinha que abastece o norte e o nordeste do país. Um gasoduto com 660 quilômetros de comprimento leva o produto até Manaus.

A cobiça estrangeira na região é assunto antigo. Vem desde a época da borracha. Aliás, os ingleses contrabandearam mudas de seringueiras para a Malásia. Eles não conheciam o látex, até que encontraram índios jogando esporte parecido com futebol com bola de borracha.

Americanos investiram como Henry Ford na Fordlândia, no rio Tapajós, em 1927. Houve investimento de Daniel Ludwig no rio Jari. Nos anos sessenta do século passado, um sujeito muito gordo, chamado Herman Khan, do Hudson Institute, veio ao Brasil deitar sapiência.

Ofereceu ao governo brasileiro projeto para construir uma gigantesca barragem no rio Amazonas com objetivo de criar um imenso lago interno. Um sonho norte-americano de interferir na geografia da América do Sul. Virou piada.

As iniciativas amazônicas com os vizinhos não foram adiante. Há tratado em vigor para elevar o comércio com a Venezuela no extremo norte porque o rio Negro se comunica com o rio Orenoco. A navegação é franca.

Também é possível refazer a viagem de Pedro Teixeira, em 1637. Ele saiu de Belém, subiu o Amazonas, o Solimões, o rio Napo e chegou a Quito no Equador. Esta via, que atravessa área de produção de petróleo no país vizinho, é hoje utilizada por embarcações que fazem viagens regulares de carga e passageiros.

Na realidade, a Amazônia continua a ser uma ilustre desconhecida dos brasileiros e dos políticos em geral. A ignorância oficial deixa governantes perplexos diante da insistência de europeus na conservação da região. O governo brasileiro não sabe muito bem por onde começar. Mandar tropas não é suficiente. A região é alvejada por traficantes de todos os tipos.

A nova geração que está chegando ao poder, no Brasil, precisará encontrar a resposta adequada para proteger os povos da floresta, o meio ambiente, e, ao mesmo tempo, levar o desenvolvimento para as comunidades existentes na região. O desafio é este.

 

André Gustavo Stumpf. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense. ⠀

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