Conheça as helpers: estrangeiras que buscam vida digna em Hong Kong

Elas trabalham como babás e domésticas seis dias por semana. Aos domingos, prestam pequenos serviços nas ruas e distribuem sorrisos

Bela Lima
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Todo domingo é a mesma coisa. Milhares de mulheres de diferentes etnias do sudeste asiático ocupam as ruas de Hong Kong com suas caixas de papelão. Elas se espalham pelas estações dos metrôs, parques e shoppings. Só neste dia podemos vê-las. O domingo é delas.

São as chamadas helpers – ajudantes, em inglês. Elas trabalham seis dias por semana como empregadas domésticas ou babás.

Cheguei em Hong Kong em um domingo e fui dar uma volta. Nunca havia escutado falar delas e quando vi, fiquei chocada com a quantidade. Chamava atenção a alegria contagiante e a quantidade de carinhas do bem, felizes e vaidosas.

Elas fazem de tudo. Em um passeio rápido pelo metrô, é possível vê-las cantando, rezando, fazendo unhas, cabelos e maquiagem, jogando cartas, brincando, dormindo, comendo e sendo felizes.

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Centenas de helpers aglomeram-se em espaços públicos nos domingos para ganhar um extra com a prestação de pequenos serviços
Cada uma chega com sua caixa de papelão: mesas improvidadas
Sempre disponíveis e bem-humoradas, as helpers se espalham pelas ruas de Hong Kong. Domingo é o dia delas
Uma das helpers oferece seus serviços. São mulheres de vários países da Ásia. Elas fazem pequenos trabalhos, como manicure e pedicure, em espaços públicos
Várias entidades ajudam essas mulheres a se organizar e cobrar melhores condições de vida e trabalho
Durante seis dias da semana, elas têm rotina dura, como domésticas e babás

 

As helpers compõem um pouco mais de 10% da população de Hong Kong. Elas começaram a chegar na ilha em 1969, atraídas por condições melhores de trabalho. Vêm da Indonésia, Filipinas, Malásia, Nepal, Tailândia e Camboja. Atrás do rosto sorridente, muitas escondem uma história de sacrifício, dor e sofrimento.

Várias deixaram seu país e parentes para trabalhar o dia inteiro, durante seis dias da semana, em Hong Kong, para sustentar a família. Com um salário de HKD 4.400 – ou um pouco mais de R$ 2.000 – são proibidas de ganhar mais ou menos.

Elas estão sob tutela do governo e a lei estabelece os direitos e deveres. São obrigadas a morar na casa dos empregadores, sob pena de multa. Isso para não prejudicar a vaga de emprego das chinesas.

Muitas largaram filhos pequenos e mandam dinheiro para que eles se formem na faculdade. Só após esse sonho realizado é que essas mulheres se permitem voltar para casa. Alguns relatos denunciam más condições de trabalho, tortura em todos os níveis, escravidão e abusos físico e mental.

 

Erwiana, uma ex-helper da Indonésia, torturada e abusada por seu empregador, o chinês Lei Wan Tung, no fim do ano passado ganhou HKD 800.000 (R$ 320.000) em uma batalha judicial. Ele foi preso em 2015 e ficará atrás das grades até 2020.

Existem muitos grupos de apoio às helpers que exigem melhores condições e maior proteção, incluindo o fim da regra de que elas devem retornar ao país de origem se, dentro de duas semanas, não conseguirem um novo emprego, em caso de denúncia de abuso, sob alegação de ser um convite à exploração.

Em julho deste ano, no Netflix, vai estrear um documentário – The Helper –, que mostrará a história emocionante de muitas delas. Vale a pena conferir.

 

Este é um post em homenagem a essas guerreiras do bem, que têm sempre um sorriso vindo do coração e uma força admirável.

Que Deus abençoe vocês, suas lindas!

 

 

 

 

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