O Nossa Cozinha não é mais o mesmo…

A casa começou pequena. Lembro-me de frequentá-la quando era apenas uma sala comercial, ao lado de uma loja de turismo, com meia dúzia de mesas. Na ilha de poucas boas opções gastronômicas que é Brasília, o negócio vingou. Por mérito da cozinha e porque a casa apresentava um binômio convidativo a qualquer paladar: boa relação custo-benefício. A comida era bem-feita, saborosa, e a gente não tinha que deixar o olho direito na hora do pagamento – fato corriqueiro nas boas casas da ilha a que me referi.

A costela com molho barbecue, prato assinatura do estabelecimento, dava água na boca. Carne tenra, molho com acidez moderada e batatas crocantes. Este símbolo enchia de orgulho o chef Alexandre Albanese. Ele, que havia passado seis anos cozinhando nos Estados Unidos, trouxe a experiência e as receitas que aprendeu nesse tempo. A habilidade nas panelas logo lhe rendeu prêmios por aqui e o Nossa Cozinha Bistrô ficou badalado. Não demorou para que fossem ampliados o espaço, o cardápio, o público… E os preços.

Nada demais, se a qualidade fosse mantida ou melhorasse, pois havia margem para isso. Porém, os efeitos da combinação sucesso mais vaidade afastaram o público inicial – responsável pela divulgação boca a boca daquele endereço singelo e singular, cravado nos fundos de uma quadra comercial da Asa Norte. Foram-se os “pioneiros” porque a escala se sobrepôs à qualidade e ao preparo mais atencioso, incluindo a suculenta costela – que tinha tudo para se tornar um clássico local.

Mesmo assim, tentei — olha que tentei! — várias vezes me apaixonar de novo… Mas não tinha como reacender a chama diante de uma moqueca com caldo aguado e sem tempero, de um curry desprovido da picância que um prato tailandês pede, ou de uma polenta com carne cozida que mais parecia uma sopa. Sem contar a famosa costela (dói lembrar), agora com as batatas murchas e sem graça.

Até onde sei, o único prato incólume à oscilação de qualidade foram os cheesecakes, especialmente o de calda de goiaba, que ainda rivaliza com a do Café Objeto Encontrado como um dos melhores da cidade.

Não podia ser uma grande coincidência! Todas as vezes em que fui ao bistrô, tinha algo de estrutural no prato para retocar. Cadê a antiga regularidade? Para onde foi aquele esmero? Hoje, quase não lembro do Nossa Cozinha quando procuro um lugar onde comer sem sustos. A casa precisa voltar às origens, urgentemente. Há um terreno a ser recuperado, Brasília carece de lugares assim.

E há outro terreno a ser ocupado. A comida de bistrô, na sua essência, é feita pensando nos ingredientes da estação, frescor nas ideias e excelência na execução. E, claro, com maior destaque aos legumes. Sim, porque embora se denomine bistrô, o restaurante, no que se refere ao tipo de comida que serve, parece mais um diner americano do que o ambiente clássico da gastronomia francesa.

Cortês, sim; omissa, não.

DEVO IR?
Se não conhece, arrisque. Se já foi, tente mais uma vez. Mas vá preparado: pois seu prato pode vir ótimo ou, pelo contrário, sem o sabor esperado.

PONTO ALTO:
O saborosíssimo cheesecake com calda de goiaba e o atendimento simpático.

PONTO FRACO:
Falta de regularidade; ausência de pratos com legumes e saladas e pouca criatividade nas entradinhas.

Nossa Cozinha Bistrô
CLN 402, Bloco C, Loja 60, 3326-5207. Site.