Nippon, uma ilha de quase excelência entre os japoneses

Brasília carece de bons restaurantes japoneses. Na capital, não há excelência no corte e no manuseio dos peixes, assim como há -– por questões geográficas -- pequena variedade de peixes para oferecer. Sem contar ainda com as invencionices mais bizarras vistas em alguns balcões -- como sushis com morango, chocolate, banana. Por favor, me bata 467 abacates, como diria Sérgio Maggio, colega de coluna aqui do Metrópoles. Não dá.

Bárbara Cortez
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Brasília carece de bons restaurantes japoneses. Na capital, não há excelência no corte e no manuseio dos peixes, assim como há – por questões geográficas – pequena variedade de peixes para oferecer. Sem contar ainda com as invencionices mais bizarras vistas em alguns balcões – como sushis com morango, chocolate, banana. Por favor, me bata 467 abacates, como diria Sérgio Maggio, colega de coluna aqui do Metrópoles. Não dá.

O Nippon vai na contramão da grande maioria dos japoneses brasilienses. Está longe de ser um Haná, com aquele sushi e sashimi extremamente comercial e de sabor infantil. Mas também não alcança a qualidade e a elegância oriental do falecido Kosui, na antiga Academia de Tênis. O Nippon está a dois degraus ainda de ser o New Koto, atualmente o melhor nipo da capital. Nem ouso comparar o que temos aqui com os originais de Tóquio, por exemplo. É como comer rúcula em vez de couve como acompanhamento da feijoada. Experiências distintas.

O que me encanta no Nippon é a qualidade da matéria-prima e o cuidado com a preparação dos sushis e sashimis. São quase 40 anos no mercado. Sente à mesa ou no balcão à noite e veja o empenho que os sushimen têm na hora de hastear a faca superafiada para fazer um belo corte transversal nos peixes. Parecem tecelões, alta alfaiataria. Ali, em pé, eles desempenham o ofício solitário que representa uma cultura singular. Bonito de ver e, depois, de comer.

Outro ponto interessante do Nippon é encontrar rostos conhecidos. Não que sejam famosos, mas pessoas comuns que têm a casa em alta conta. Clientes fiéis, o que para mim demonstra a perenidade de uma soma de características que fazem a pessoa se deslocar até aquele ponto várias vezes na vida. Isso é tratar o cliente com respeito. É claro que, vira e mexe, você poderá esbarrar com uma mesa de engravatados, em que no centro esteja um certo ministro poderoso (ou ex-poderoso), um habitué de lá.

Aconselho tanto o rodízio como o cardápio à la carte. Em dezenas de vezes que estive por lá, poucos foram os dias de “má sorte”. Uma vez recebi um teppan yaki de polvo, lula e camarões intragável – sem sabor e com os frutos do mar meio borrachudos. Parece que o cozinheiro dormiu no ponto e se esqueceu que esses moluscos e crustáceos não são muito afeitos a tanta exposição de calor.

Também brigo por dois motivos: quando me servem um sashimi fino, que dá para enxergar do outro lado do peixe, ou o rabinho dele – como se fosse sobra. Não aceito um restaurante fazer isso. Reclamo na hora. E a outra é mais frequente: no rodízio do almoço, eles servem o sunomono com lasquinhas de polvo. Aquilo parece enfeite de tão pouco. Ou oferecem o polvo mais fartamente na saladinha de pepino ou retiram “aquele perfume”. Pois fico com a sensação de querer comer e não ter. Mas isso foram pontos fora da curva.

Posso tranquilamente listar os motivos que me faz sempre procurar ou indicar o Nippon a amigos e inimigos – já devo ter uns tantos por aí. A variedade dos pratos quentes para quem não curte peixe cru ou arroz, o atendimento simpático e eficiente – o que digamos que, em Brasília, é raridade – , o serviço volante do rodízio do almoço. Esse circula, atentamente, com os crocantes rolinhos de camarão e queijo e de legumes e carne, e com o salmão e a anchova bem temperadinhos, além de pratos que tenham legumes cozidos, uma espécie em extinção nos menus brasilienses.

Se eu fosse dona de lá, dava um jeito na decoração (ai, meu deus, esse meu olhar de arquiteta!), com ares japoneses, mas com teto baixo, meio claustrofóbico e colocava os preços no site.

Cortês sim; omissa, não.

DEVO IR?
Deve e, se quiser, me chame.

PONTO ALTO:
Qualidade da matéria-prima e variedade de opções aos amantes ou não de sushi e sashimi.

PONTO FRACO:
Teto baixo e falta de polvo no sunomono do rodízio.

403 Sul, Bloco A, Loja 20/28, 3224-0430.

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