Para ajudar a filha doente, pai faz faculdade com a jovem
Desde os 13 anos, Renatha Gonçalves lida com uma enfermidade não diagnosticada pelos médicos. Com apoio do pai, Cleuton, ela não desistiu dos sonhos
atualizado
Compartilhar notícia
Nos pesados álbuns de fotografia da formatura de Renatha Gonçalves, 25 anos, o pai da jovem não aparece somente nas tradicionais poses com a família. No lugar da camisa social e da gravata usadas por convidados, Cleuton Raphael Gonçalves, 57, também vestiu uma beca.
O militar aposentado decidiu sentar-se na mesma sala de aula de Renatha, que tem dificuldades de locomoção devido a uma doença não diagnosticada pelos médicos, para auxiliá-la. Pai e filha desvendaram lado a lado os conceitos freudianos e conquistaram o sonhado nível superior. Os dois dividiram a emoção de se graduar em psicologia no Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).
Colegas de classe emocionavam-se com a relação dos dois. Cleuton carregava Renatha no colo, pois ela tem dificuldades para andar. Também fazia todas as anotações da aula, já que a filha não pode escrever.
Quando tudo mudou
Até os 13 anos, Renatha era uma adolescente saudável. Nessa idade, viu a sua rotina de treinos em um time de vôlei e as descobertas inerentes ao dia a dia na escola desaparecerem. Poucas horas após deixar a filha no Colégio Marista João Paulo II, em Taguatinga, Cleuton recebeu uma ligação da instituição. Ao chegar à escola, ele encontrou Renatha se debatendo, babando e sem os movimentos dos braços e das pernas.
Enquanto a família não tinha uma resposta, a saúde da jovem se deteriorou. Ela passou a usar um andador para se locomover. A fala se perdeu e a comunicação era por meio de balbucios – que apenas o pai compreendia – e olhares. Com seus quase 1,75m de altura, Renatha chegou a pesar apenas 38 kg. “Usei milhares de remédios experimentais, mas todos aqueles frascos só me deixavam pior”, diz Renatha.
“Ouvi de um médico que a minha filha iria atrofiar até morrer e que isso não demoraria. Nesse momento, pensei em matar a Renatha e, em seguida, me matar. Minha esposa, anos depois, me contou que pensou a mesma coisa. E a nossa menina também cogitou tirar a vida”, desabafou Cleuton. Três dias após receber a sentença do profissional, o militar foi internado. Ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou quase uma semana em uma cama de hospital.
“Muita gente se afastou. Achavam que podia ser algo contagioso, eram preconceituosas. Tiveram pessoas que indicaram até sessão de exorcismo para a Renatha”, lamentou a mãe da jovem, Rosângela Amaral.
A família, que já não tinha força para continuar lutando, encontrou em um médico espiritual a esperança de cura de Renatha. Católicos, os pais, por muito tempo, rejeitaram a sugestão de uma conhecida de levá-la para conhecer o Doutor Valentim, como é conhecido o médium. No Recinto de Caridade Adolfo Bezerra de Menezes, no Gama, Cleuton, Rosângela e Renatha deixaram o preconceito religioso de lado e passaram a adotar as prescrições de Valentim.
Hoje, a jovem já não precisa mais do andador. Ainda com um pouco de dificuldade, voltou a falar. Mesmo sem conseguir escrever, arrisca passar um batom e um lápis preto no olho. Os pais creditam a Valentim a recuperação de Renatha. A melhora na saúde permitiu que ela ingressasse no ensino superior.
Com muito tempo ocioso desde que decidiu se aposentar mais cedo para cuidar da filha, Cleuton teve a ideia de entrar na faculdade com Renatha. Depois de muitas provas, trabalhos em grupos e superação, em dezembro de 2015, os dois comemoraram, entre lágrimas e homenagens, a formatura. Agora, finalizando a pós-graduação em sua área, a jovem planeja, junto com o pai, abrir uma clínica de psicologia em Águas Claras.