Objetos achados em livros usados viram coleção de memórias no Sebinho
Há fotos de família, cartas de amor, bilhetes de viagem e muitos itens inusitados dentro da “Toscaixa”, uma arca de lembranças, no Sebinho
atualizado
Compartilhar notícia

Há uma caixa cheia de afetos guardada em uma livraria brasiliense. No Sebinho, um dos sebos mais tradicionais de Brasília, todo objeto encontrado dentro de livros usados é guardado como relíquia.
Na “Toscaixa”, como foi apelidada a arca de lembranças, há itens da década de 1960 e até dos anos atuais. Em sua tampa, lê-se: “Oi, meu nome é Toscaixa! Minha função é guardar coisas toscas, estranhas, interessantes que achamos dentro dos livros. Por favor cuidem bem de mim! – 3/7/2012.”
Ninguém nunca parou para contar os itens, mas é certo que são centenas. Um homem e uma mulher sorriem com sombreiros mexicanos em uma foto. Os olhos miúdos e os sorrisos abertos trazem a pergunta: teriam eles tomado tequila? Estão no México ou na Asa Sul? Em outra imagem, um casal beija-se apaixonado, décadas atrás. Se a felicidade resistiu ao tempo, não se sabe. A foto, embora envelhecida, está ali para lembrar que o amor existiu.

Dentro da caixa, moram os primeiros passos de uma criança, o início de amizades, cartões de Dia das Mães, cartas apaixonadas, listas de desejos e uma receita de pão de queijo. Textos de despedida convivem com bilhetes de viagem, extratos bancários, receitas de remédio, poesias, resultado do teste de gravidez (que deu positivo), camisinha (sem uso, ainda bem), tíquetes de shows e de exposições de fotografia.
Cida Caldas, a dona do Sebinho, é guardiã do tesouro. Em 1985, ela fundou a loja, localizada na 406 norte, por amor aos livros e segue como uma das principais referências para os amantes da leitura na capital. “A memória dos livros traz mais histórias do que as que estão nas páginas. Os livros usados são uma viagem, já percorreram caminhos”, diz.Entre todas as preciosidades esquecidas, as flores secas são as preferidas de Cida. “São coisas tão íntimas, me tocam muito, me emocionam. Crio uma história para cada objeto, para cada rosto nas fotos”, afirma. Explorar a “Toscaixa” é, sem dúvida, uma viagem cheia de estações distribuídas no tempo e em vidas desconhecidas.

Com amor
Uma infinidade de cartas estão “perdidas” ali. São segredos lacrados com adesivo de coração ou já sem envelope, nus diante dos olhos curiosos. Em uma delas, lê-se:
“BSB, 12.6.2015
Henrique meu filho
Sei que foi Deus que me deu você. Eu quero pedir perdão por não ter sido a mãe que gostaria que eu fosse, mas eu quero que você saiba que eu te amo muito, que sou eternamente grata a Deus por ter tido você.
Eu te peço perdão por todas as minhas falhas como mãe. Eu te perdoo por todos os seus erros e dores causadas a mim e a todos da família. Espero na fé que eu tenho ver você adicto recuperado. Torço por você. Abraços e beijo da sua mãe que te ama muito.”
Em outras, amigos trocam conselhos e confidências:
“E aí, Renatinha, marca de macarrão
Como andam as coisas no Mackenzie? Você é daquelas pessoas que conseguem se dar melhor com pessoas mais velhas do que com pessoas da mesma idade. E não se esqueça de manter distância do Gustavo. Aquele moleque se encaixa em qualquer piada do “caos da mongolice… Eu agora tenho MSN!”
“Querida amiga Vera,
Lendo no domingo a revista “Contigo”, deparei com uma reportagem de uma dieta feita pela apresentadora Hebe Camargo, então pensei em você. Anexo uma xerox para seu conhecimento caso interesse pelo assunto. Qualquer pergunta me telefone. Eu vou fazer durante 1 (uma) semana. Desejo perder 3 quilos. Qualquer dia irei visitá-la, antes telefonarei. Bem, amiga, termino por aqui.
Um abraço”

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes
“O tempo aqui está bastante quente. O termômetro tem acusado sempre 30º. Entretanto no Rio está muito pior, pois quase diariamente chega a 40º (segundo as notícias dos jornais, rádio e televisão). Deve estar um forno, não é? E por aí como está? Tem tido notícias da Arlete? Marlinda continua no silêncio. Acho que os netos estão ocupando todo o tempo dela. Quais são as novidades por aí?
Laulinha tem escrito para você? Há muito tempo que não a vejo. Talião (viúvo de Nely) está namorando com Terezinha (viúva de Valêncio) e parece que vão casar dentro em breve. Ultimamente, embora quase sem tempo, dei para fazer minha roupa mesmo sem ter tirado nenhum curso de corte.
Sabe como? Por meio desses moldes que acompanham as revistas (Cigarra, Manequim, etc). Tem dado certo, pois estou gostanto muito, pois é a minha distração do fim de semana. O carnaval por aí está animado? Você vai brincar? Aguardando sua resposta, me despeço enviando recomendações para todos.
Da cunhada que não a esquece receba um forte abraço
Maura
Recebeu meu cartão de natal?”
“Ale,
Não sei se você viu o meu perfil no Orkut (se não viu vai ficar curiosa hehe) mas você pode se sentir honrada…
Agora você tem um amigo para a vida inteira”
Amantes falam sobre o dia a dia:
“Olá
Acabei de receber a sua carta, fiquei curiosa para ler, como não queria ler aqui na loja peguei uma nota de sai (aqui perto). Lendo no meio da rua não percebi e pisei num sapo. Quase morri de susto. Mas tudo bem, não morri. Gostaria de saber o seu apelido, por que você não me falou antes? Comprei um livro para você ler na viagem. Faltam poucos dias para você viajar e eu não me acostumei ainda. Ontem eu não te liguei porque eu dormi a tarde e acordei com a chuva. Levantei e peguei umas cobertas e acordei hoje com notícia sua. Isso é muito bom.
Cuide mais da sua saúde
c/ carinho
Nely 11/12/1995”
Há também confissões:
“Sinto-me como uma coisa qualquer, em um canto qualquer onde as pessoas esquecem e eu me esqueço e me abandono. Tenho medo de não ser capaz de ser eu mesma.”
“Relendo meus escritos, nenhuma surpresa: + do mesmo. Eles não estão datados, mas me lembro bem dos momentos em que foram escritos: estão todos gravados na minha carne e na minha alma.
Perdoar? Perdôo sim, a ele e a mim. O que não significa que quero voltar a escrever sobre isso, que quero voltar a sentir isso.
Por favor, Myllene, se entenda. Você bem sabe que não deseja ser personagem de um conto de fadas. Por que não assume e admite de uma vez por todas que o que deseja não é algo extraordinário. Tem alguma dúvida que merece ser respeitada? Amada?”
Não faltam poesias na caixinha:
“Herança
Por que a vida passa?
Quando se é criança um dia vive-se ao sabor da fantasia
De repente, tudo se vai e se esvai
Como uma pluma solta no vento
O passado longínquo ainda mora em nós
Tudo que dissemos agora estaremos repetindo outrora
Somos herança-esperança”
Dedicatórias afetuosas escritas em cartões postais muitas vezes acompanharam os livros:
“Sr Almiro, querido amigo, nesse livro muito mais do que a magia da literatura, que comove, ensina e transforma, segue ‘anexo’ uma declaração de amor ao seu jeito de ser, inspirado na solidariedade, amabilidade e amizade…. O poeta Paulo Leminski costumava dizer que ‘isso de ser o que a gente é ainda vai nos levar além’. Os bons sentimentos têm o condão de “levar além” também as pessoas com quem convivemos. Por isso “diante da vastidão do espaço e da intensidade do tempo, é uma alegria partilhar um planeta e uma época com você” (Carl Sagan).
Feliz aniversário. Que felizes sejam todos os seus dias…. beijos com amor
Bárbara”
Na caixinha, vive também a esperança de um Brasil melhor:
“João Pessoa, 2 e não sei de Outubro de 2002
Olá, gata
(…) E aí, foi Lula lá? Eu fui e sou. Espero que agora esse país vá para frente.
ps: como ontem foi dia de eleição, logo hoje é 28”
E uma lista de desejos:
Eu quero para 2009
– passar no concurso (estudar muito)
– comprar uma geladeira duplex
– ganhar dinheiro
– namorar alguém que tenha a ver comigo (que não seja casado/ tenha emprego, dinheiro/seja intelectual/ gente de música/seja apaixonado por mim e eu por ele)
Explore você também a “Toscaixa” nas galerias de imagens:


Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles

Giovanna Bembom/Metrópoles


Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes


Leilane Menezes


Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes


Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes


Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes

Leilane Menezes
O Sebinho é conhecido como um dos espaços culturais mais movimentados da cidade. Confira três motivos para visitá-lo:

A livraia tem mais de 100 mil títulos à venda. Entre eles, várias raridades, como um exemplar autografado por Guimarães Rosa (R$ 600) e um "O Auto da Compadecida" assinado por Ariano Suassuna (R$ 100)

Ali ocorre, no mínimo, um evento cultural por semana: são lançamentos de livros, pocket shows, cursos de literatura, mostras de filmes e exposições
