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“Se os professores estão doentes, o futuro do país também está doente”

Exigir melhores condições de trabalho para o docente significa pedir uma melhor educação para as nossas crianças

Autor Fernando de Castro

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Corredor da Escola de Música de Brasília
1 de 1 Corredor da Escola de Música de Brasília - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Imagine um médico tendo que limpar o chão de seu consultório para iniciar um dia de trabalho numa unidade médica. Agora, imagine um engenheiro civil que precise misturar o cimento ao mesmo tempo em que planeja a estrutura de uma construção. E ainda, um padeiro que precise plantar, colher e processar o trigo para, somente após esse processo, poder se dedicar ao seu ofício. Parece muito difícil, não é? Pois bem, essas situações, guardadas as devidas proporções, acontecem na carreira docente todos os dias e em toda a rede pública e privada de educação.

Tomo como exemplo uma situação vivenciada por mim mesmo, enquanto pai de uma criança matriculada na educação infantil. Ao questionar sobre como meu filho de cinco anos usava o banheiro na escola, fui informado que a direção assegurava que a professora era a responsável por limpá-lo no horário de aula… Gelei da cabeça aos pés…

Como pode a professora ser obrigada a limpar meu filho? Isso não é papel dela. Até o momento, eu pensava que meu filho se limpava tranquilamente todos os dias, já que foi ensinado em casa a fazer isso desde os três anos. Porém, a escola, num ímpeto de prestar o “melhor serviço”, obrigava a professora a fazer isso e nós não fomos informados. É justamente aí que se encontra o maior problema da carreira docente.

O mundo está em constante mudança. A escola acaba por assumir uma série de responsabilidades que antes não eram de sua competência. A oferta de educação em tempo integral, a necessidade agressiva de formação continuada para a competição no mercado, o uso de tecnologias inovadoras na escola, a explosão de cursos de formação em licenciatura aliados à má formação docente e às condições precárias de trabalho, são apenas algumas das situações que os professores enfrentam no dia a dia da profissão.

A tecnologia deve ser uma ferramenta de aperfeiçoamento e nunca algo obrigatório ou impositivo, por exemplo. Sabe aquele ditado que diz “de médico e professor (sic) todo mundo tem um pouco”? Pois é, ele é real e existe, sim. Todo mundo acha que pode dizer o que o professor pode e/ou tem que fazer. Nem a sociedade sabe ao certo qual é o real papel de um professor.

O que isso gera? Doenças. Se os professores de um país estão doentes, significa que o futuro do país também está doente. Estamos falando de uma profissão relacional, que depende da atuação de diversas pessoas ao longo do processo, inclusive da própria família.

O professor não é o único responsável pela aprendizagem do aluno. Todos nós somos responsáveis. Exigir melhores condições de trabalho para o professor significa pedir uma melhor educação para as nossas crianças. A solução para este problema parte de diversas frentes. A discussão está posta. Uma melhor gestão da carreira docente é algo a ser discutido por toda a sociedade.

(*) Fernando de Castro – Especialista em Educação do AulaUP,  formado pela Universidade de Brasília (UnB) em Educação a Distância, em Gestão e Orientação Educação Continuada. Atualmente é mestrando do programa de pós-graduação em Educação da UnB.

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