metropoles.com

Depressão pós-parto: mães precisam de ajuda, não de julgamento

Falta ou aumento de apetite, alteração do sono, agitação e dificuldade de concentração podem ser sintomas da doença

Autor Sandi Sato

atualizado

Compartilhar notícia

iStock
mae1
1 de 1 mae1 - Foto: iStock

Um dos grandes desafios da vida de uma mãe é passar pelo período do puerpério – a fase do pós-parto. Esse é o estágio em que a mulher vivencia bruscas mudanças no corpo e isso inclui:

  • alteração abrupta de produção hormonal associado a mudanças em seus hábitos sociais
  • alteração da qualidade do sono e da rotina familiar
  • enfrentar a exigência cultural de que toda mulher “nasce” para ser mãe
  • a responsabilidade de garantir a sobrevivência de um ser totalmente indefeso

Mediante esse contexto, aproximadamente 80% delas podem apresentar um quadro conhecido como Blue Puerperal, fase em que é possível perceber sinais de sensibilidade excessiva, apatia, tristeza, melancolia, comportamento hostil e falta de interesse nos cuidados do bebê.

É um quadro que aparece logo nos primeiros dias após o parto e tem caráter transitório, desaparecendo em torno de 2 a 3 semanas, sem necessidade de tratamento, mas é de suma importância o apoio emocional dos familiares e profissionais que cercam a mãe.

A depressão pós-parto vem depois desta fase e é uma situação mais delicada, que exige mais cuidados. Além disso, requer suporte psicológico e muitas vezes é necessário o uso de medicação.

A incidência é variável, chegando até a 50% – se a mulher possuir histórico pessoal ou familiar de depressão, distúrbios de ansiedade ou qualquer outra patologia psiquiátrica. Parto prematuro, violência física ou sexual e falta de estrutura familiar também são alguns fatores que aumentam o risco de desenvolver a doença.

Esse quadro geralmente surge semanas após o nascimento do bebê, com sintomas parecidos com os do Blue Puerperal. A evolução deles, porém, caminha para o pior. Falta ou aumento de apetite, alteração do sono, agitação, dificuldade de concentração são outros sinais bem recorrentes.

Por isso, garantir que a mãe receba o tratamento adequado diminui a incidência e o prejuízo na relação entre mãe e bebê, preservando o desenvolvimento da criança.

Infelizmente, 2% das puérperas podem progredir para a forma mais grave da depressão materna associada a delírios e pensamentos de machucar a si e o bebê – Psicose Puerperal.

Considerada um quadro de emergência, ela requer monitoramento rigoroso e muitas vezes a internação se faz necessária para preservar a vida. Apesar desta gravidade, menos de 5% dos casos evoluem para o suicídio ou infanticídio – assassinato do bebê – se adequadamente tratada e acompanhada.

Independentemente do tipo de transtorno é importante que os sintomas sejam reconhecidos precocemente e adequadamente tratados. Ter uma alimentação saudável, realizar atividade física, delegar funções quanto aos cuidados com o bebê para garantir o descanso da mãe e dividir as experiências vividas e expectativas pode ajudar muito na recuperação.

*Sandi Sato, pediatra da Maternidade Brasília

Compartilhar notícia