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Defender o Teatro Dulcina é um manifesto de amor à arte

Sair de si, tendo consciência de sua própria identidade, rememorar mitos através de um rito de celebração da nossa condição, de forma estética, dando testemunho de nosso tempo; sabendo-se efêmero diante da arte de interpretar a existência por uma necessidade de sobrevivência. Só isso, a meu ver, traz a potência de vontade daqueles que desejam […]

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Felipe Menezes/Metrópoles
Dulcina
1 de 1 Dulcina - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Sair de si, tendo consciência de sua própria identidade, rememorar mitos através de um rito de celebração da nossa condição, de forma estética, dando testemunho de nosso tempo; sabendo-se efêmero diante da arte de interpretar a existência por uma necessidade de sobrevivência.

Só isso, a meu ver, traz a potência de vontade daqueles que desejam tornar isso sua missão, uma profissão, um trabalho, uma labuta, um trajeto em eterno processo. Voltar os olhos para si com humildade, para compartilhar como filtro, mazelas, alegrias, fortunas e infortúnios, é um ofício tão sagrado que nos legou a Mestra Dulcina.

O nosso legítimo clamor é um alerta frente a ameaças de profanação desse templo. Mas, o difícil é ser simples. Principalmente hoje, quando pairam no ar outros quereres (ancestrais em verdade), que nos distanciam da capacidade de perceber o que é imprescindível.

A Fundação Brasileira de Teatro (FBT) é um reduto de gente que gosta de gente. Prerrogativa que incomoda os preconceituosos, os axiomáticos, os que ditam “verdades absolutas”.

Gente que gosta de gente não é esponjosa, é porosa, filtra em equilíbrio de luxo, na corda bamba, um chamamento à tecitura de uma rede de segurança repleta de identificações críticas por parte de quem testemunha no intérprete, o que o educa e trasborda.

Nossa luta traz fé, uma fé nos deuses que criamos à nossa imagem e semelhança. Há em nós compaixão por aqueles que não enxergam, apenas vêem, impõem, obtusos. A sorte é bêbada, hora esbarra na demência, hora na sapiência. Para compreendê-la, tendo consciência de nossa própria identidade, há de se ter humildade.

Modestos, são fracos, mas eles nem sabem o quanto precisam de nós. Deixem-nos amá-los, interpretá-los. Fomos escolhidos! Pois se há escolhas livres de imposições, em atos conjuntos, queremos construir uma sociedade lúdica, por tanto lúcida. Nós fomos escolhidos!

Ou! Século 21! O amor nunca saiu de moda. É uma questão de AMOROSIDADE. Preservem-nos.

Tullio Guimarães é teatrólogo

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