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Como é difícil ser mulher no século 21. Eu sou simplesmente Maria

O feminismo, realmente, nos abriu muitas portas. O debate pela igualdade de gêneros, outras tantas. Mas esse período de longa transição, de quando começamos e até onde queremos chegar, é de matar qualquer uma

Autor Maria Eugênia

atualizado

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A minha rotina não é diferente da de muitas Marias. Não ao pé da letra, ipsis litteris, mas semelhante em muitos aspectos. Sou mãe, filha, irmã, tia, sobrinha, madrinha, afilhada, dona de casa, companheira, trabalho e gosto do que faço e, quando sobra tempo (kkkkk), ainda consigo correr ou fazer alguma coisa só pra mim.

Isso, entretanto, não quer dizer que tenho a vida perfeita. Não estou usando este espaço para dizer que sou super, que posso tudo. Pelo contrário. Gostaria de dividir com as Marias como é difícil ser mulher com todas essas tarefas em pleno século 21. A discussão, vocês sabem muito bem disso, vai bem além do bela, recatada e do lar.

O feminismo, realmente, nos abriu muitas portas. O debate pela igualdade de gêneros, outras tantas. Mas esse período de longa transição, de quando começamos e até onde queremos chegar, é de matar qualquer uma.

A contribuição para essa luta, com certeza, é para as próximas gerações… Talvez as minhas bisnetas já não precisem mais viver com esse tipo de conflito.

Trabalhar (e ser eficiente), ser mãe (ficar disponível, mesmo que no celular, ininterruptamente), mulher (sempre atraente), companheira (e estar por dentro da tabela do Brasileirão e saber comentar os lances com entendimento de causa), ser família (e ter agenda para todos os almoços e festinhas), administrar a casa (mesmo sem dar conta de fritar um ovo), ser ministro da Fazenda do seu próprio orçamento (e lidar com a possibilidade de chegar o fim do mês sem conseguir fechar todas as contas. Preciso aprender essa tal pedalada!). E, não menos importante, ser amante (uma fonte inesgotável de prazer)… Ufa, será que terminei a lista???!!!!

Parece que o dia de 24 horas é pouco diante de tantas tarefas. Porque para conseguir fazer tudo isso é preciso, ainda, dedicar algumas horinhas (poucas que sejam) para dormir. Afinal, ninguém é de ferro.

No meio desse caminho, nem sempre conseguimos traduzir o tamanho dessa dificuldade. É complicado, por exemplo, pedir ajuda. Porque pode ser interpretado como fraqueza. E nada é pior para uma autêntica Maria do que fracassar. No meio desse caminho, também, perdemos amigos. Porque é difícil manter as amizades que não resistem à distância. Não é fácil aceitar todos os convites para sair, trocar ideias, manter o papo em dia.

Às vezes, você quer muito ir, mas se lembra da máquina cheia de roupa para lavar ou do artigo da semana que tem que escrever. Tem ainda o supermercado ou a caçula quer se encontrar com os amigos e precisa do carro. Sem falar do marido que finge que não liga quando você sai com as amigas, mas fica emburrado quando você chega em casa de madrugada e, levemente, embriagada.

Mas é na vida profissional que ocorrem e ocorreram as reações mais surpreendentes. Gostaria de compartilhar isso com outras Marias.

Nesta segunda (1/8), completo 31 anos de trabalho. Não fosse o tal fator previdenciário, com certeza poderia me aposentar. E embora nunca tenha sido oficialmente preterida para algum cargo por ser mulher, é onde mais tive que me esforçar para vencer a barreira do gênero.

Tanto esforço chega a confundir as pessoas. Para muitos, sou workaholic. Daquele tipo que não consegue se desligar. Mas isso não é verdade. É uma imagem construída de fora para dentro. Sim, sou responsável e comprometida. Coisa bem diferente de ser uma viciada em trabalho.

Quando me formei, as redações eram dominadas pelos homens. Não em quantidade, mas os cargos de chefia eram quase que uma exclusividade para eles. Das mulheres que conseguiam subir a postos mais altos sempre se diziam que eram “fáceis” e que “faziam de tudo” para chegar no topo.

Me lembro da época em que dividia com dois homens a chefia de reportagem de um jornal. O dono não conversava comigo. Apenas com os meus dois colegas. Por que será?

E quando fiquei grávida! Tinha um chefe que dizia que as mulheres usavam a gravidez para “ficar na vida boa”.

Vencer esses estigmas exigiu muito trabalho. Realmente precisei abrir mão de muitas horas na companhia de minha família. Trabalhei, sim, três, quatro vezes mais do que colegas homens. Não bastava ser competente.

E, ao contrário do que alguns pensam, essa luta não tem a ver com vaidade. Tem a ver com sobrevivência. É com o suor do meu trabalho, com tantas horas de dedicação, que sustento os meus filhos, oferecendo a eles o que posso de melhor.

A realidade, hoje, é um pouco diferente. Tem mulheres no comando. As empresas começam a descobrir que liderança não tem a ver com sexo, mas com qualidades, competências, valores e atitudes.

Mas há um longo caminho a percorrer ainda. E as Marias sabem muito bem do que estou falando.

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