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Parábola do Espelho. A vida reflete tudo o que sentimos por dentro

Deus se manifesta como um registro de tudo que vivemos em nossa caminhada

atualizado

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1 de 1 espelho - Foto: iStock

Era uma vez um espelho um pouco enferrujado, amarelado pelo tempo, com muitas ondulações em sua superfície. Ele vivia triste, pois sentia-se inadequado para refletir as belezas da vida, devido à sua superfície bastante irregular.

Embevecia-se com a natureza e pedia a Deus que o auxiliasse a ser um novo espelho: com uma superfície lisa, bela, eficiente para refletir o mundo lá fora. Viveu muito tempo nesse jogo de auto-acusação: sofria e sentia culpa por não ser tudo o que desejava.

Foram muitas e muitas mudanças de casa. A cada novo lugar, sentia-se cada vez mais impotente para cumprir sua função primordial. Num belo dia, jogado no canto de um quarto abandonado, percebeu-se refletindo um lindo pássaro que pousara no batente da janela empoeirada.

Sentiu uma alegria tão imensa, uma gratidão tão bonita, que naquele instante reconectou-se com seu propósito interno. “Ainda que tortinho, posso refletir as belas coisas da vida!”, concluiu. Daquele dia em diante, passou a alegrar-se com qualquer imagem linda que passava por seu caminho. Parou de focar naquilo que não estava pronto como desejava, e pôs-se a servir, como podia.

Conforme o espelho fortalecia-se no propósito de fazer seu melhor e agradecer, não notava que suas ondulações foram amainando-se com o tempo. As arestas foram sendo aparadas, os reflexos tornaram-se mais claros e definidos.

Na alegria de servir, uma paz e uma certeza sem igual transbordavam incessantemente de seu coração. Sem mais reparar tanto em suas formas, seguia fluindo no amor em movimento, focado em sua missão: permitir-se ser a simplicidade que fez de seu espelho, a alma onde reflete, até hoje, a “vossa santa imagem”.

Somos nós, os espelhos
Esta parábola, que termina com a menção da frase final da Prece de Cáritas, vem nos ensinar que não há um Deus cruel querendo nos punir. Longe disso, Deus também atua dentro de nós, e se manifesta como um registro de tudo que vivemos em nossa caminhada.

O amor nos alcança com a força de suas leis, sustentadas pelo pai-ordem, que se comunica conosco pela consciência. Dentro de nós, vibramos nossa realidade por meio de um magneto interno, este espelho do qual falamos.

Por que repetimos padrões de sofrimento?
Cada vez que infringimos a Lei de Amor, o espelho dá uma “entortadinha”. E, ao invés de refletir o amor de Deus com a pureza de um espelho perfeito, a luz bate nas irregularidades deste espelho empenado que, por sua vez, emana para a vida um reflexo igualmente irregular.

A vida, que é perfeita, não julga e nem condena, entende a mensagem. E devolve, novamente, outro reflexo, expresso numa situação específica que oportuniza que nos reajustemos com a Lei de Amor. Isso explica porque repetimos padrões de sofrimento.

E assim, neste bailar de reflexos, a vida manifesta tudo aquilo que vibramos dentro. Ela aguarda que tenhamos a possibilidade de integrá-los por completo. O processo segue até que o espelho finalmente compreende a mensagem e reconecta-se com seu propósito maior.

De tribunal a altar da consciência
Às vezes, a culpa gerada por essas distorções internas são tão grandes, que sentimos necessidade de “viver expiações”. Isso acontece porque ainda estamos respondendo por nossos “crimes”, perante o tribunal de nossa própria consciência.

Esse estágio de tribunal tem funções importantes, que fazem parte do nosso caminhar. Mas chega o dia em que nos encontramos suficientemente cansados de sofrer. Nos damos conta de que o carrasco por trás da tribuna somos nós mesmos, procurando redenção perante nossas culpas.

A essa altura, percebemos que o Deus carrasco nunca existiu, nem nunca exigiu expiações. Ele somente quer nos ver refletir seu imenso amor, fluindo em movimento por meio de nós. É aí que a mais bela alquimia acontece: transcendemos o tribunal e nos postamos perante o altar da consciência! E, assim, passamos a fazer da existência, o mais belo ato de alegria e louvor.

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