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Homem que atropelou fiéis em Londres agiu sozinho, afirma Theresa May

O suspeito tem 48 anos. O incidente causou a morte de uma pessoa e deixou outras dez feridas nesta segunda-feira (19/6)

atualizado

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MATT DUNHAM/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Theresa May condena novo ataque em Londres
1 de 1 Theresa May condena novo ataque em Londres - Foto: MATT DUNHAM/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, confirmou nesta segunda-feira (19/6) que o responsável pelo atropelamento de muçulmanos perto de uma mesquita em Londres “agiu sozinho”, segundo as investigações preliminares da polícia. O incidente causou a morte de um homem e deixou outras dez pessoas feridas.

Em uma declaração à imprensa local, a líder conservadora disse que o atropelamento no bairro de Finsbury Park, no norte da capital, “é um lembrete de que o terrorismo, o extremismo e o ódio adotam muitas formas” e insistiu que o governo está “determinado” a “erradicá-los, independentemente de quem foi o responsável”.

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May se dirigiu ao país após ter presidido uma reunião com sua comissão de emergência em resposta ao atropelamento ocorrido na véspera, no qual uma pessoa morreu e 10 ficaram feridas. A Polícia Metropolitana de Londres (Met) ainda não confirmou que essa morte está diretamente vinculada ao ocorrido.

Aparentemente, a vítima já estava recebendo atendimento médico quando o agressor, um homem de 48 anos que está sob custódia da polícia, começou a atropelar com uma caminhonete os pedestres, todos eles fiéis muçulmanos que acabavam de deixar a mesquita de seu bairro.

Em sua declaração, a chefe de Estado conservadora afirmou que esta ação, “mais uma vez, teve como alvo pessoas normais e inocentes que cumpriam com suas rotinas, desta vez muçulmanos britânicos que deixavam uma mesquita”, em “um momento sagrado do ano” para esta comunidade, o mês do jejum do Ramadã.

“Hoje nos unimos, como já fizemos anteriormente, para condenar este ato e indicar, de novo, que o ódio e a maldade jamais triunfarão”, reiterou May.

Para a primeira-ministra, este ataque contra a comunidade muçulmana “é tão insidioso e destrutivo para os valores e a forma de vida” dos britânicos como os últimos atos terroristas cometidos em Manchester e Londres, aparentemente motivados por extremistas islâmicos.

Após avaliar a situação com o grupo de especialistas do chamado Comitê Cobra — que reúne os principais ministros de governo e a cúpula dos serviços de emergência do país —, May anunciou que o governo planeja revisar sua estratégia atual de combate ao terrorismo e, para isso, vai criar uma nova comissão.

“Este ataque contra os muçulmanos perto do seu local de culto e todos os atos de terrorismo em qualquer uma de suas formas têm um mesmo objetivo fundamental: dividir a sociedade e romper os vínculos de solidariedade que são compartilhados neste país”, frisou a premiê, que acrescentou que seu governo “não permitirá que isto ocorra”.

Histórico
Em 2005, o epicentro do jihadismo em Londres ficava no distrito de Finsbury Park, mais precisamente na mesquita de Finsbury Park, à época controlada pelo imã (autoridade religiosa do islamismo) extremista Abu Hamza al-Masri, condenado à prisão perpétua nos EUA após ser extraditado por envolvimento com a Al-Qaeda.

Al-Masri foi, ao lado do advogado Anjem Choudary, fundador do grupo jihadista Al-Muhajiroun — “Os Emigrantes”. Choudary é uma das personalidades mais controvertidas do Reino Unido por pregar abertamente a guerra santa e o terrorismo.

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Al-Masri se tornou imã da mesquista de Finsbury Park em 1997, quando ela ganhou a reputação de um centro de islamismo radical em Londres. Ele fazia praticamente todos os sermões. No primeiro aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001, ele foi um dos organizadores de uma palestra na mesquita que elogiava a ação dos sequestradores.

Cinco anos depois, soube-se, durante o julgamento dos homens posteriormente condenados pelos atentados fracassados em 21 de julho de 2005 em Londres, que vários dos autores haviam frequentado a mesquita de Abu Hamza.

Medo
Esse atropelamento revive o sentimento de medo na capital britânica, que viveu dois recentes ataques com o uso de veículos. No dia 22 de março, um britânico de 52 anos jogou um carro contra pedestres na Ponte de Westminster, matando quatro pessoas. Em seguida, o homem esfaqueou um policial – que também morreu — e foi morto pela polícia.

Em 3 de junho, em um ataque terrorista, uma van atropelou diversas pessoas na Ponte de Londres e, em seguida, três homens desceram e esfaquearam pedestres perto do Mercado Borough e num restaurante na Rua Stoney. Os três terroristas foram mortos pela polícia logo em seguida. Pelo menos oito pessoas foram mortas no atentado e outras 48 ficaram feridas.

O ataque, ocorrido dias antes das eleições legislativas no Reino Unido, levou à perda de maioria absoluta no Parlamento do Partido Conservador de Theresa May.

Estudos de diferentes universidades e centros de pesquisas na Europa e EUA revelam que ataques terroristas têm impacto em votações. Na base de todos os estudos está a capacidade de o terrorismo causar pânico em um grande número de pessoas, principalmente em centros urbanos.

O impacto, segundo psicólogos, vai além dos que foram alvo do ataque e pode ser registrado também numa comunidade inteira que se sente ameaçada. É essa insegurança que levaria a uma atitude que fugiria da lógica partidária.

Em um estudo de 2016 do Departamento de Psicologia Política da Universidade de Maryland, pesquisadores mostraram que o impacto seria mais complexo do que a mera mudança de voto, mas os eleitores estariam mais dispostos a adotar posições mais extremistas. No estudo, foi constatado ainda que, ao sofrer um ataque, uma comunidade estaria mais propensa a aceitar regras não democráticas, em especial contra minorias vistas como ameaça.

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