Temer é recebido sob protestos em reunião com governo da Noruega
Cerca de 40 pessoas se posicionaram às portas da sede do Executivo do país escandinavo, com cartazes e coro de “Fora Temer”
atualizado
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Um dia depois de o governo da Noruega anunciar corte no envio de dinheiro para o combate ao desmatamento no Brasil, o presidente Michel Temer (PMDB) foi recebido sob protestos de ambientalistas ao se reunir com a primeira-ministra do país escandinavo, Erna Solberg. Grupos indígenas e organizações não governamentais (ONGs) europeias alertam que, diante da redução de recursos, a proteção ambiental e dos direitos dessas etnias devem sofrer.
Na manhã desta sexta-feira (23/6), um grupo de cerca de 40 pessoas se posicionou às portas da sede do governo, com cartazes e um coro de “Fora Temer”. Ao sair do carro, o presidente chegou a olhar para o grupo e, rapidamente, entrou no edifício.
De acordo com os líderes ambientalistas, a administração de Temer tem dado apoio à banca ruralista no Congresso. “Vemos um constante e sistemático ataque ao meio ambiente nesse governo”, disse Sonia Guajajara, que comanda a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. “O Brasil era um exemplo ao mundo e hoje é um problema.”A líder indígena disse entender o corte de verbas pela Noruega. Mas admite que a redução de dinheiro terá “um impacto negativo”. “Muitos grupos indígenas são beneficiados pelos recursos. O corte, portanto, significa o enfraquecimento de iniciativas aos indígenas e problemas para a implementação de gestão territorial”, admitiu.
A redução do dinheiro foi anunciada por Oslo nesta quinta-feira, 22, depois que o governo informou ao Brasil de que a taxa de desmatamento tem aumentado. Pelo acordo de 2008, o dinheiro liberado de mais de US$ 1,1 bilhão é reduzido sempre que isso ocorrer. Em dois anos, o Brasil já terá perdido R$ 196 milhões.
O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, culpou o governo passado e disse que só Deus poderia garantir que, no futuro, não haverá desmatamento. “Pior que culpa passada é culpa de Deus”, afirmou Sonia. “Querem arrumar um culpado. Não podem ficar empurrando com a barriga para outros.”
“Para o Brasil, esse corte é uma vergonha. Há um enfraquecimento de políticas ambientas e 20 medidas para flexibilizar leis de proteção”, disse.
Sarney Filho se reuniu ainda com três ONGs norueguesas e garantiu que não iria apoiar qualquer redução de áreas de proteção. Anna Lovold, da entidade Rainforest Foundation, foi uma das que esteve com o ministro.
“Ele disse que não aprovaria nenhuma lei que vá afetar a floresta e que não vai reconhecer nada que afete os indígenas. Não temos confiança, e a prova é a existência desse protesto. Temos dúvidas. Mas vamos esperar e ver”, disse, com seu filho de 2 anos no colo diante da sede do governo.
Para ela, o recado da sociedade civil ao governo norueguês é de que, se o Brasil não mostrar resultados, o Fundo da Amazônia precisa fechar. “Não vamos poder apoiar o fundo”, disse.
O presidente da Rainforest Foundation, Lars Bjordnal, admitiu que o corte de dinheiro “é um risco”. “Mas isso aqui é uma cooperação. O que adianta se governo brasileiro quer minar os resultados. Tem de ter coerente”, disse.O ativista admitiu que os problemas começaram já nos últimos anos do governo de Dilma Rousseff (PT). “Isso é verdade. Mas já são três anos de desmatamento. É preciso uma política forte”, completou.