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‘Se algo ocorrer comigo, não será acidente’, diz delatora do doping

“Nunca tive tanto medo”, admitiu a russa Yulia Stepanova

atualizado

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Yulia Stepanova, delatora do esquema de doping da Rússia, fez um alerta: se algo ocorrer com ela ou sua família, não será um acidente. Em uma entrevista para um grupo limitado de jornalistas, com a participação do Estadão.com, a russa revelou que tem sido alvo de ameaças e que teme hoje por sua vida. “Nunca tive tanto medo”, admitiu.

A delatora do escândalo de doping confirmou que hackers entraram em suas contas e dados pessoais. A russa, que vivia em um local mantido em sigilo nos Estados Unidos, foi obrigada a se mudar e está sob proteção policial.

Stepanova foi quem revelou a existência de um esquema de doping na Rússia com participação estatal, que levou à suspensão de mais de cem atletas de seu país. Em entrevista exclusiva ao Estadão.com, ela revelou na semana passada que havia sido alvo de ameaças e que, no Rio de Janeiro, atletas dopados competiriam.

“Primeiro minha conta de e-mail foi fechada e eu não conseguia entrar. Primeiro pensei que fosse um acidente e não dei importância. Mas no mesmo dia também vi que meus dados na Wada (a Agência Mundial Antidoping) tinham sido bloqueados. Fiquei alarmada. O único motivo desse acesso era saber onde eu estava morando e decidimos que tínhamos de sair imediatamente de casa”, contou.

Vitaly Stepanov, seu marido, confirmou que os investigadores os alertaram que ficassem em alerta. “As pessoas que nos seguem talvez saibam onde estamos”, disse.

“Se algo ocorrer comigo ou com minha família, saibam que não foi um acidente. Estamos tomando medidas para nos proteger. Mas se alguém quiser fazer algo, vão conseguir. Estamos muito preocupados. Temos uma filha pequena e nunca a deixamos sozinha. Mas a realidade é que seria muito fácil fazer algo contra nós”, completou Stepanovaç

Ela admitiu que está acompanhando os Jogos do Rio e não escondeu sua decepção. “Era meu sonho. Estou decepcionado”, disse. Mas admite que talvez sua ida ao Rio poderia ter sido problemática diante da falta de segurança na cidade brasileira. “Talvez tenha sido bom que não tenha ido”, declarou, lembrando dos assaltos contra outros atletas.

Stepanova e seu marido voltaram a criticar o Comitê Olímpico Internacional e garantiram: “Muitos atletas e de outras nacionalidades também estão dopados”. “Talvez esses resultados espetaculares deveriam ser examinados melhor”, disse Vitaly. “Alguns dos grandes atletas estão dopados. Não é só um problema da Rússia. Os resultados só geram mais suspeitas. A realidade é que o sistema continua”, completou.

Colocada sob proteção policial, Yulia foi classificada como “Judas” pelo Kremlin. Desde a eclosão do escândalo de doping, dois ex-diretores dos laboratórios russos morreram de forma misteriosa. Um deles estava prestes a publicar um livro com revelações.

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