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Polícia do Rio prende membro do COI suspeito de cambismo na Olimpíada

Pat Hickey foi preso na manhã desta quarta (17/8), no seu hotel, na Barra da Tijuca. Ele é acusado de envolvimento na venda de ingressos para os Jogos Olímpicos

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1 de 1 pat_hickey - Foto: Reprodução

A polícia do Rio prendeu na manhã desta quarta-feira (17/8) Pat Hickey, membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). Ele é acusado de envolvimento na venda de ingressos para os Jogos Olímpicos. A prisão ocorreu no hotel usado pela entidade, na Barra da Tijuca. O dirigente também preside o Comitê Olímpico da Irlanda.

O Estadão.com havia revelado semana passada que cambistas presos no Rio de Janeiro foram abastecidos por ingressos fornecidos pela “família olímpica” e atuavam para uma empresa com ligações com membros do COI. No total, cerca de 40 cambistas foram detidos em três dias no Rio, com grupos repetindo o esquema que ocorreu na Copa do Mundo de 2014.

Um dos presos pela Polícia Civil do Rio na última sexta-feira foi o irlandês Kevin James Mallon acusado de envolvimento com uma quadrilha internacional de cambistas. Detido em flagrante, ele era um dos diretores da empresa inglesa THG que, em 2014, teve seu CEO, James Sinton, detido por integrar a máfia dos ingressos da Copa do Mundo.

Durante a ação, os policiais civis apreenderam cerca de 1.000 ingressos que eram comercializados por valores bem acima dos fixados pela organização da Olimpíada.

Mas vários desses ingressos faziam referências às entidades de membros do COI. Para que cada ingresso seja emitido, ele precisa sair com um nome de referência. Muitos deles estavam em nome do Comitê Olímpico da Irlanda, inclusive ingressos de valores elevados para a cerimônia de abertura.

Donovan Ferreti, diretor de Ingressos do Rio-2016, explicou que uma pessoa ou empresa pode comprar no máximo 120 entradas. Mas entidades olímpicas nacionais tem acesso a um volume maior, supostamente para vender para seus torcedores.

Procurado, o Comitê Olímpico da Irlanda indicou que não conhece as pessoas presas. ” Abrimos investigações imediatas para entender como ingressos com os nomes do comitê chegaram a essas pessoas”, indicou o comitê irlandês, em um e-mail. A entidade garante que segue as regras do COI sobre venda e revenda. “Estamos tratando dessa assunto como máxima seriedade “, garantiu.

Na THG, porém, um dos funcionários que trabalhou numa das subsidiárias da empresa era Stephen Hickey, filho do também irlandês Pat Hickey, membro até semana passada do Comitê Executivo do COI e hoje chefe dos Comitês Olímpicos Europeus.

Em 2012, o senador Romário apresentou um requerimento no Ministério do Esporte, solicitando que o governo federal investigue um possível tráfico de influências envolvendo Pat Hickey com o presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. “O senhor Hickey costuma visitar o Rio para contribuir com os preparativos do evento ou para sondar oportunidades de negócios para sua família?”, questionou Romário na época. Hickey, naquele momento, negou qualquer envolvimento.

Membros do COI indicaram ao Estadão.com que a THG não foi autorizada a atuar no Rio, rompendo uma tradição de anos. A empresa teve contrato para vender ingressos em 2012, em Londres, e 2014, em Sochi. Ferreti ainda garante que não tem qualquer relação com a THG e que a empresa não tem credenciamento para vender entradas.

No momento da prisão, segundo a Polícia Civil, Mallon estava com ingressos falsos da Olimpíada. Ele foi autuado pelos crimes de associação criminosa, marketing por emboscada e facilitação de cambismo. Também foi presa Barbara Carnieri, funcionária da THG, contratada há três meses para atuar como intérprete nos Jogos. De acordo com a polícia, com base nas provas reunidas, ela foi atuada pelo crime de marketing por emboscada.

Valores
Mallon chegou a vender ingressos para a cerimônia de abertura da Olimpíada por até US$ 8 mil (aproximadamente R$ 25,4 mil). O diretor da THG Sports está no Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio.

O delegado Ricardo Barbosa, titular da Delegacia de Defraudaçoes, que conduziu as investigações, afirmou que os ingressos foram comprados pela THG da empresa Cartan, que é credenciada pelo Rio-2016. “Por um trabalho de inteligência, vimos que a THG estaria atuando no Rio visando a vender ingressos da Olimpíada e conseguir vantagem financeira muito grande. O intuito da empresa era vender ingressos para eventos muito procurados, como a final do futebol, a cerimônia de abertura e encerramento, em locais privilegiados dos estádios. Tinham valores agregados altos”, disse Barbosa.

Segundo o delegado, a THG obteria lucros de mais de R$ 10 milhões. No momento em que Kevin foi preso, em um hotel na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, foram encontrados 32 ingressos da cerimônia de abertura. Em um cofre do apartamento em que o estrangeiro estava hospedado, foram encontrados mais 781 ingressos. Os 32 ingressos achados durante a recepção no salão do hotel foram vendidos cada um por US$ 8 mil – deveriam custar R$ 1.400. Todos foram cancelados pelo Rio-2016.

Quando foi preso, Kevin estava com compradores de entradas. Vinte foram conduzidos para a delegacia para prestar esclarecimentos. Uma tradutora contratada pela empresa, Barbara Carnieri, também foi presa pelo crime de marketing de emboscada, mas liberada.

Além dele, outras 24 pessoas foram presos pela defraudações mais especializadas, dez cambistas de rua presos pela Delegacia de Vila Isabel e outros pela cidade.

No caso da ação da polícia de Vila Isabel, foram presos em flagrante dez pessoas que comercializavam ingressos de forma ilegal para a abertura da Olimpíada. A quadrilha seria de São Paulo. Nove foram presos na rua Visconde de Itamarati, próximo à rua Francisco Xavier, na Tijuca, zona norte.

O delegado Hilton Pinho, que coordenou a investigação, informou que os autores vieram para o Rio com a intenção de realizar a venda ilegal de ingressos e pretendiam, no dia seguinte, retornar a São Paulo. Eles foram ouvidos na delegacia e confessaram o crime.

De acordo com a policia, o líder da associação criminosa, Carlos Roberto dos Santos, disse à Polícia Civil que os ingressos eram comprados para revenda pelo grupo, com cartões de crédito clonados. Por isso, conseguiam vender os ingressos por preço inferior ao valor que estava estampado no documento.

Para o Comitê Rio-2016, a operação mostra que a cooperação entre os organizadores e a polícia funcionou. “O fato de a operação ocorrer logo no início dos Jogos mostra que estamos atentos ao risco”, disse Mario Andrada, diretor de Comunicações do Rio-2016.

Volta
Apesar das prisões, a reportagem do Estadão.com voltou a presenciar cambistas nas passarelas que dão acesso ao Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, atuando livremente. No último domingo, os cambistas percorriam a calçada perto dos locais de acesso, caminhando poucos metros da Força Nacional.

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