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Roque Santeiro volta à cena em uma versão musical

Saga criada por Dias Gomes chegará aos palcos com canções de Zeca Baleiro e direção de Débora Dubois

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Roque Santeiro
1 de 1 Roque Santeiro - Foto: Reprodução

A trajetória do falso herói de guerra começou no palco, em 1965, passou por duas telenovelas – uma proibida pela censura, em 1975, e outra de enorme sucesso, dez anos depois – e agora volta à cena, em uma versão musical. Roque Santeiro, um dos mais conhecidos títulos criados por Dias Gomes (1922-1999), estreia no Teatro Faap no dia 27 de janeiro seguindo um roteiro que o próprio autor deixou escrito como um musical. “Dias criou canções belíssimas, mas deixou algumas lacunas que foram compensadas com canções criadas especialmente por Zeca Baleiro”, conta a diretora Débora Dubois. “E há também composições com o toque dos dois, o que chamamos de ‘mesa branca’.”

Roque Santeiro tem uma trajetória tão acidentada como bem-sucedida. Surgiu como uma peça de teatro, O Berço do Herói, que estrearia em 1965 se não fosse proibida pela censura do governo militar, incomodado com a crítica explicitamente humanista à forma como se constroem mitos heroicos baseados em fatos reais – o texto trata da idolatria que uma pequena cidade dedica ao cabo Jorge, aclamado por ter morrido com bravura na 2 ª Guerra quando, na verdade, ele fugiu do front depois de atacado por uma crise nervosa.

Dez anos depois, em 1975, já consagrado como autor de telenovelas, Dias Gomes disfarçadamente adaptou a própria peça e a transformou em Roque Santeiro, cujo primeiro capítulo nem sequer foi exibido: naquele 27 de agosto, a Globo recebeu ofício do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), censurando a novela – o governo descobriu que a peça era a origem do folhetim 36 capítulos já tinham sido gravados com Lima Duarte no papel de Sinhozinho Malta, amante de Porcina (Betty Faria), viúva do milagreiro Roque (Francisco Cuoco), que volta à cidade de Asa Branca 17 anos depois de ser canonizado como um herói morto.

Finalmente, em 1985, já na fase de abertura política, a novela foi exibida, agora com Regina Duarte como Porcina e José Wilker no papel de Roque Santeiro. Um sucesso retumbante, cravando em média 75% da audiência da TV. E, terminado esse trabalho, Dias Gomes deixou, segundo o produtor Edinho Rodrigues, uma versão em musical nunca encenada. “Buscamos deixar a peça mais fluente para os dias atuais, mas não é fácil”, atesta Débora Dubois. “O texto do Dias é muito fluente e só conseguimos contar cerca de dez frases até o momento.”

“Na verdade, o Dias era profético e sua escrita, muito atual”, observa Zeca Baleiro, à vontade em trabalhar com adaptações. “É uma volta às origens, pois fazia isso no início da minha carreira”, conta ele que, ao lado de Débora, já realizara A Paixão Segundo Nelson, musical que trazia textos de Nelson Rodrigues. Para criar melodia e letra de Roque Santeiro – O Musical, Baleiro primeiro observou com atenção a métrica e as metáforas elaboradas por Dias Gomes. “Como abraçava a ideologia comunista, ele buscou inspiração no teatro político de Bertolt Brecht e Kurt Weil, o que resultou num tom de marcha”, conta o compositor, que diversificou a sonoridade ao trazer toques de baião, tango e bolero ao musical. O resultado, acompanhado pelo Estado em um ensaio, revela uma grande unicidade, com canções que tanto projetam a prosa engajada de Dias Gomes (“o capital é uma religião”, diz uma das letras) como aquelas que trazem o melódico tom crítico de Baleiro.

Além das novas canções, o espetáculo traz o personagem do professor Astromar, que é apenas citado no original, mas ganhou vida na montagem atual. O elenco, aliás, enfrenta o desafio de acrescentar toques originais a papéis ainda vivos na memória do espectador. “Faço uma homenagem a Lima Duarte”, conta Jarbas Homem de Mello, na pele de Sinhozinho Malta. “Ele criou um tipo muito forte e, por isso, não posso deixar de, ao menos uma vez, sacudir o relógio e as pulseiras como Lima fazia.” O famoso bordão “tô certo ou tô errado?” continua, pois figura no texto original.

Pelo mesmo caminho trilha Lívia Camargo no papel de Porcina. “Também não posso ignorar detalhes criados pela Regina, mas o que faço é deixar meu toque pessoal prevalecer”, argumenta ela que, assim como Jarbas, já revela um perfeito entendimento de seu personagem. O elenco ainda é formado por grandes nomes do teatro musical como Flávio Tolezani (Roque), Mel Lisboa (Mocinha), Dagoberto Feliz (prefeito Florindo) e, em atuações que prometem ser marcantes, Luciana Carnelli (Matilde) e Nábia Vilela (Pombinha).

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