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Crítica: Em “A Moon Shaped Pool”, Radiohead reflete sobre medos

Nono álbum de estúdio da banda inglesa entrega atmosferas melancólicas, letras sombrias e sonoridade orquestral

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Radiohead
1 de 1 Radiohead - Foto: Reprodução/Twitter

Numa era em que as revoluções musicais são conduzidas por artistas de hip-hop e eletrônico, a banda Radiohead suspira inovação roqueira. Cada novo disco do quinteto inglês é um atestado artístico, um testemunho vanguardista, uma tomada de pulso dos nossos tempos – e do próprio estado de espírito inquieto de Thom Yorke e companhia. Lançado no domingo (8/5), o álbum “A Moon Shaped Pool” se desenrola como uma crônica sobre perdas, medos e anseios.

O que envolve um lançamento do Radiohead costuma ser tão obscuro, críptico e labiríntico quanto os próprios discos. Nos dias que antecederam o álbum, a banda mandou misteriosos flyers para fãs na Inglaterra, apagou o conteúdo de site e redes sociais, soltou teasers nesses próprios meios, postou um clipe de stop-motion (“Burn the Witch”) e outro dirigido pelo cineasta Paul Thomas Anderson (“Daydreaming”).

Abaixo, tentamos desvendar os temas e sons de “A Moon Shaped Pool”:

 

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Músicas rearranjadas e retorno ao passado
Das 11 novas músicas encartadas no disco, sete já foram mostradas em algum momento no passado, sobretudo ao vivo. Aqui, elas recebem tratamento de estúdio pela primeira vez. A maior parte das faixas acena para o começo da década passada, entre os discos “Kid A” (2000) e “Amnesiac” (2001).

“Present Tense” flerta com a bossa nova, enquanto “The Numbers” discursa sobre aquecimento global. Escolhida para encerrar o CD, “True Love Waits” vai além e fornece mais peças para o quebra-cabeças que forma a mítica do grupo. Yorke escreveu essa tristonha canção de amor em 1995, ano de “The Bends”. Só agora ela ganha versão definitiva, com uma marca importante: centésima música do Radiohead registrada em disco.

 

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As cordas orquestrais de Jonny Greenwood
A pista foi dada no primeiro single, “Burn the Witch”: o Radiohead abusaria das cordas e de composições orquestrais no novo trabalho. Tocadas pela London Contemporary Orchestra, essas texturas estão por toda a parte em “A Moon Shaped Pool”.

Compostos pelo guitarrista Jonny Greenwood, os arranjos remetem diretamente às trilhas que ele vem desenvolvendo nos últimos anos para os filmes de Paul Thomas Anderson – “Sangue Negro” (2007), “O Mestre” (2012) e “Vício Inerente” (2014).

O Radiohead sempre recorreu às cordas para várias de suas músicas grandiosas e dramáticas, como “Climbing Up the Walls”. Desta vez, acordes de piano dominam “Decks Dark”, baixos pesados conduzem “Ful Stop” a um intenso clímax melódico e massas de violinos inundam “Glass Eyes”. A voz de Yorke chega até a ser imitada por graves na parte final de “Daydreaming”.

 

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Perdas pessoais
Desde “The King of Limbs” (2011), disco mais fraco do grupo desde “Pablo Honey” (1992), circularam rumores sobre o fim da banda. Alguns indícios foram interpretados a partir de letras de “Limbs”, como “Separator”. Outros eram abastecidos pelos projetos paralelos.

Yorke e Phil Selway (baterista) lançaram novos discos solo, Greenwood fez trilhas sonoras e Nigel Godrich, longevo produtor da banda, colaborou com Yorke na banda Atoms For Peace. Ainda assim, nada de separação. O que parece evidente em “A Moon Shaped Pool” são as perdas pessoais.

Godrich contou no Twitter que seu pai morreu durante as gravações. Em 2015, Yorke se divorciou de Rachel Owen, com quem foi casado por 23 anos. No clipe de “Daydreaming” (acima), Yorke abre portas de uma lavanderia, entra numa biblioteca, zanza pelos corredores de um hospital e passeia por um estacionamento vazio em busca de algo imaterial, intangível.

Termina o vídeo numa caverna, enquanto ruídos sussurram “metade da minha vida” (“half of my life”) ao contrário. Na faixa seguinte, “Decks Dark” registra um óvni bloqueando o céu, deixando a escuridão invadir a terra. “True Love Waits” se despede com resignação: “apenas não vá embora / não vá embora”. 

 

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Paranoia, inadequação social e medos urbanos
Mais ou menos desde “Creep” – quer dizer, desde sempre –, o Radiohead desabafa suas angústias em relação à vida moderna. “Ok Computer” (1997) registra a solidão em meio a bits, máquinas e aparatos industriais e “Kid A” (2000) descreve uma melancolia insuportável por meio de gélidas paragens eletrônicas.

Cada disco empreende uma nova viagem de paranoia, medo e ansiedade. “A Moon Shaped Pool” é construído sobre esses sentimentos. O piano doce de “Glass Eyes” lembra o pessimismo de outras grandes músicas da banda, como “Nude”, “Karma Police” e “Bullet Proof..I Wish I Was”.

Tal como em “Daydreaming”, o narrador quer apenas fugir e, se possível, ir em frente: “nenhum grande emprego / nenhuma mensagem chegando / e você é tão pequeno”. Sutil como sempre, Yorke compartilha suas impressões sobre a falência da raça humana em “Identikit” e “Ful Stop”. Um disco pensativo e agitado sobre os loucos e ríspidos tempos atuais.

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