Na playlist “More Life”, Drake cria uma alternativa ao disco
Após o sucesso de “Views”, o rapper retrabalha o conceito de mixtapes em “More Life”, um apanhado de canções sem um fio condutor
atualizado
Compartilhar notícia

A princípio, a playlist “More Life”, novo projeto do rapper canadense Drake, parece apenas mais um disco. Reúne singles mostrados ao longo de alguns meses, tem praticamente a mesma duração média dos álbuns do artista (80 minutos), data de lançamento, capinha e tudo mais. Se era para ser algo despojado e caseiro, por que então não chamar de mixtape?
Enquanto o disco de estúdio sempre gera uma expectativa alta – um trabalho com conceito pensado e planejado, fio condutor, narrativa, produção caprichada –, a mixtape serve para mostrar um lado mais cru e espontâneo do trabalho de um artista.
Repasse a discografia de Drake:

"More Life" (2017), a playlist tem-de-tudo: dancehall, trap, house, parceria com Kanye West Young Money/Divulgação

"Views" (2016): um Drake em atmosfera nublada, com hits à beça Young Money/Divulgação

"If You're Reading This It's Too Late" (2015): disco de transição sombrio, antecipando temas e tons de "Views" Young Money/Divulgação

"What a Time to Be Alive" (2015): mixtape colaborativa com Future Young Money/Divulgação

"Nothing Was the Same" (2013): uma reflexão intensa sobre amor, carreira e identidade Young Money/Divulgação

"Take Care" (2011): um disco de rap reflexivo, grandioso e festivo, com parcerias certeiras ao lado de Weeknd, Rihanna e Lil Wayne Young Money/Divulgação

"Thank Me Later" (2010): as crônicas autobiográficas marcam o primeiro disco de estúdio do rapper Young Money/Divulgação

"So Far Gone" (2009): o EP foi o primeiro lançamento comercial de Drake Young Money/Divulgação
Sobretudo na cultura hip-hop, a mix é praticamente um cartão de visitas. Antes eram gravadas em fitas cassetes, depois passaram para o download em mp3 e hoje se espalham por plataformas de streaming. Mas o conceito permanece o mesmo: um esboço franco de rimas, temas e sons de um rapper, sem pitacos ou remendos de produtores.
E, então, chegamos a “More Life”. Drake tem se esforçado para chamar o projeto de playlist desde o anúncio, em outubro de 2016: “uma trilha sonora para a sua vida”, no modelo de uma listinha que qualquer pessoa faz sem compromisso, ou “uma ponte para preencher o vácuo entre lançamentos grandes”. Depois do estouro de “Views”, faz sentido querer algo low profile.
“More Life” (“Mais Vida”) de fato consegue soar como algo novo na carreira do rapper: um apanhado de canções que prefere a aventura de desbravar novos sons às suas ambiciosas crônicas aflitivas e crepusculares
“Views”, o mais recente disco de estúdio, representou o maior sucesso da carreira de Drake. “One Dance”, “Hotline Bling” e outros hits à parte, era um trabalho de atmosfera chuvosa, pensativa. “More Life” tenta afastar as nuvens nubladas e arejar os horizontes.
Obviamente, o artista pop atribulado segue ruminando suas feridas, como o narrador do single “Fake Love”. Mas a maior parte de “More Life” é mesmo um passeio descomplicado por gêneros musicais menos badalados que o rap convencional, como o caribenho dancehall (“Blem”), estilo já muito usado em “Views”, e o britânico grime (“KMT”).
Se “Views” mostrava um Drake do alto de uma torre em Toronto a contemplar um céu tempestuoso, “More Life” vê o rapper em casa, de olhos fechados, relaxando com fones de ouvido.