Crítica: em “Strange Little Birds”, a Garbage nunca soou tão sombria
A banda liderada por Shirley Manson volta a demarcar terreno no rock independente com um disco direto e ligado às origens do grupo, na metade dos anos 1990
atualizado
Compartilhar notícia
Mesmo quando alcançou o ápice do sucesso, gravando um tema de James Bond (“The World Is Not Enough”, para “007 – O Mundo Não É o Bastante”, em 1999), o Garbage foi uma banda de difícil encaixe em certos padrões. Após sucessos e crises, o quarteto liderado por Shirley Manson tenta reler suas origens em “Strange Little Birds”, novo disco de estúdio.
Criada na época em que os Smashing Pumpkins levavam adiante a revolução do Nirvana, a banda assimila o grunge de Kurt Cobain mais como um rumo geracional do que de fato uma referência sonora – apesar de ter Butch Vig, produtor de “Nervemind” (1991), como baterista e compositor.
A partir desse senso de posicionamento histórico, coleta ruídos do shoegaze, as guitarras grudentas do power pop e atmosferas etéreas do trip-hop. Essa estética típica dos anos 1990 é resgatada nas 11 faixas de “Strange Little Birds”. Mas esse flashback não parece assim meramente saudosista: sem tantos compromissos comerciais, o Garbage se sente seguro para soar como quiser, áspero e nebuloso à beça.
Tristeza: único lirismo possível
A melancolia que paira sobre boa parte das bandas independentes dos anos 1990 continua a se acumular nas letras e melodias do Garbage. Ainda que essa tristeza seja quase que um estado de espírito inventado, um estilo de vida transmitido por meio de poses e gestos, o grupo consegue embalar tudo isso numa sonoridade direta, compacta e confiante.
A narradora abalada por amores miseráveis e destrutivos retorna nos passeios de carro noturnos de “Night Drive Loneliness” e nas lamentações ambíguas de “Amends”. Em várias outras faixas, como “If I Lost You” e “Fucking With You”, a banda é capaz de precisos retornos ao primeiro disco, “Garbage” (1995): um rock acessível, de experimentações seguras e baladinhas melódicas – e ainda assim longe de parecer inofensivo.
—
“Strange Little Birds” (Golfetti, R$ 39,90)
O disco está disponível no Google Play, no iTunes e no Spotify