metropoles.com

Ativista e romântico, Morrissey deu um elegante show em sua primeira vez na cidade

Apresentação deste domingo (29/11) também ficou marcada pelo vegetarianismo do cantor. A produção pagou para que ambulantes deixassem de vender carne na área externa. À tarde, um episódio com garçons da casa quase acabou com o espetáculo

atualizado

Compartilhar notícia

Daniel Ferreira/Metrópoles
1 de 1 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Lá pela décima música do show, Morrissey falou com a plateia sobre sua passagem pelo Brasil. “Foi fantástico em São Paulo. No Rio, foi um pouco difícil”, confessou. “Querem saber minha conclusão?”, indagou, já emendando os primeiros versos de “Earth Is the Loneliest Planet”. A primeira visita à capital rendeu um show bonito e elegante, conduzido pela persona atormentada e romântica que os fãs adoram ver e ouvir. Nos bastidores, talvez a passagem por Brasília tenha sido um pouco tensa.

Antes de surgir no palco do Net Live, exatamente às 21h32, o ex-vocalista do The Smiths fez valer seu ativismo vegetariano. Lá fora, a produção do show, acompanhada por policiais militares, pediu que os ambulantes – quase todos vendedores de churrasquinho e cachorro-quente – interrompessem as vendas. Segundo uma comerciante, a organização do espetáculo deu R$ 500 para que os vendedores acatassem a recomendação.

Sabe-se que o roqueiro já abortou shows por desentendimentos quanto ao comércio de carne durante suas apresentações. Uma pessoa da organização do espetáculo informou ao Metrópoles que, no período da tarde, houve uma vistoria feita pela produção do britânico. Garçons da casa foram vistos fritando linguiça, o que irritou os produtores. Com os ânimos mais serenos – explicou-se que a carne não seria servida -, qualquer possibilidade de cancelamento foi escanteada.

0

 

Sedutor, nostálgico e engajado
As ocorrências extrapalco parecem não ter constrangido Morrissey. À vontade, entre gestos e rodopios com o cabo do microfone, ele seguiu os ritos introdutórios da atual turnê, baseada no recente disco “World Peace Is None of Your Business” (2014). Abriu com o megahit “Suedehead” e inspirou o coro coletivo na plateia em “Alma Matters” e “Speedway”, outros dois sucessos de sua extensa discografia solo.

Com imagens de violência policial exibidas no telão – inclusive maltratando animais -, Morrissey cantou justamente “Ganglord”, faixa sobre autoridades truculentas e corruptas. A música foi apenas a primeira de uma série de manifestações políticas do cantor. Aqui e ali, ele também não se esqueceu de esbanjar simpatia no contato com os fãs. “Nós temos certeza de que vocês têm mais poder do que supõem. Então, usem-no!”, gritou, pouco antes de iniciar “First of the Gang to Die”.

O rico imaginário rebelde de Morrissey parece circular por terrenos diversos da cultura pop – de Elvis Presley e James Dean aos punks inquietos de Ramones e New York Dolls. Mas, incrivelmente, nada soa assim tão derivativo quanto parece. O britânico é, antes de tudo, um roqueiro galante e esperto.

0

 

O inglês é capaz de uma interpretação comovente de “Everyday Is Like Sunday”. Algumas faixas adiante, ele empresta raiva e indignação a “Meat Is Murder”, um clássico do The Smiths, numa performance apoiada por fortes imagens de abate de animais encharcando o telão de sangue. “Para você, para mim, para o mundo, para o meio-ambiente, para os animais. Carne é uma merda!”, ele urrou, antes da canção.

Apesar da figura recorrente do apaixonado melancólico, o britânico também sabe provocar a plateia. Tirou a camisa e jogou a peça de roupa para o alto em duas oportunidades. Ali pertinho da primeira fila, não hesitou em pegar um exemplar em vinil de “Bona Drag” (1990) e devolvê-lo autografado para um fã.

Após uma breve pausa, Morrissey retornou para o bis. Com a bandeira da França no telão, cantou os belos versos de “I’m Throwing My Arms Around Paris”. O ato final se deu com o sempre aguardado cover de “The Queen Is Dead”, faixa-título do melhor álbum dos Smiths. Já sem camisa pela segunda vez, o britânico deixou o palco de fininho, rapidamente, às 23h15. Com a discrição dos mais elegante dos rebeldes.

Colaborou Olivia Meireles

Compartilhar notícia