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Após um 2015 agitado, Scalene grava primeiro DVD no Mané Garrincha

A banda brasiliense conversa com o “Metrópoles” sobre fãs, amadurecimento e influências brasileiras para o próximo disco

atualizado

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Leonardo Arruda/Esp. Metrópoles
1 de 1 - Foto: Leonardo Arruda/Esp. Metrópoles

Com timbres pesados do stoner rock e um grupo de seguidores fiéis, a banda Scalene se tornou uma das atrações musicais mais comentadas da cidade. Após um 2015 intenso, de visitas aos festivais Lollapalooza e SXSW (Texas, EUA) e vice-campeonato no programa musical “SuperStar”, da Rede Globo, o grupo ocupa o Estádio Nacional Mané Garrincha neste sábado (19/3) para gravar seu primeiro DVD. As também brasilienses Dona Cislene e Alarmes abrem o evento.

Antes do maior show da banda desde o início da formação, em 2009, os irmãos Gustavo Bertoni (guitarra e vocal) e Tomas (guitarra), Lucas Furtado (baixo) e Philipe ‘Makako’ (bateria e vocal) tiraram uma folga entre os ensaios para conversar com o Metrópoles.

Eles adiantaram o que deve rolar na apresentação. Serão 21 faixas: metade “Real/Surreal” (2013), metade “Éter” (2015). As inéditas “Entrelaços”, “Inércia” e mais uma surpresinha completam o repertório. Na conversa, o quarteto também falou sobre cena brasiliense, a circulação pelo eixo Rio/São Paulo, a sonoridade atual e os planos para o futuro.

Leonardo Arruda/Esp. Metrópoles
Lucas Furtado, Tomas Bertoni, Gustavo Bertoni e Philipe ‘Makako’: a banda Scalene

 

Vocês consideram que o “SuperStar” mudou o patamar da banda em termos de fama e alcance?

Gustavo: Foi uma exposição muito grande. Era um trabalho que vinha sendo feito há seis anos de forma independente: toda a parte de produção, de música até o audiovisual. Já produzimos muitos eventos também. Sem dúvida alguma, foi a oportunidade de mostrar esse som pra milhões de pessoas, um número que a gente não conseguiria acessar de outra forma, só pela internet ou pelos outros veículos que a gente já tinha.

Tomas: Desde 2013 a gente já vinha tocando em festivais como Bananada, DoSol, Porão do Rock. Esse crescimento veio principalmente pelo disco “Real/Surreal”. E aí nós lançamos o “Éter” em maio (de 2015) e depois fomos para o “SuperStar”.

Da fase anterior, do EP “Cromático”, restou algo para o repertório do DVD?

Gustavo: Para esse DVD, nada de “Cromático”. A gente considera esse EP nosso primeiro material dessa formação como banda.

Nesse percurso entre “Real/Surreal” e “Éter”, o que enxergam em termos de mudança de sonoridade? O que ficou para trás e o que vocês adicionaram? E o que vocês têm ouvido no momento?

Gustavo: A banda está em constante evolução. Cada um busca ouvir cada vez mais gêneros musicais, inclusive fora do rock. A gente tem achado novos pontos em que nos sentimos mais inspirados e confortáveis, como o stoner rock e talvez o post-rock. Nossa essência sempre vai ser a mesma, mas vamos interpretá-la de formas cada vez mais profundas e densas.

Lucas: A gente está sempre aberto a escutar coisas diferentes. Agora, muito o disco da Elza Soares (“A Mulher do Fim do Mundo“). Uma influência um pouco inusitada. Mas é de muita qualidade musical estrutural, de timbre. Uma referência muito massa.

Gustavo: Tem uma banda chamada O’Brother. Nothing But Thieves também. Acho que vamos deixar o próximo CD mais brasileiro, mais grooveado, mas sem perder o peso.

Leonardo Arruda/Esp. Metrópoles
Gustavo Bertoni: guitarrista e vocalista da banda

 

Sentem necessidade de, em algum momento no futuro próximo, se mudarem para São Paulo ou Rio de Janeiro?

Gustavo: É uma coisa que vamos conversando esporadicamente. Por enquanto, não sentimos necessidade. Conseguimos transitar bastante entre as cidades, manter contatos. Acabamos indo bastante não somente pra tocar, mas pra assistir shows. A trabalho e lazer. Dá pra manter nossa presença sentida lá.

Já há algum tempo, sempre se fala na ausência de um mainstream roqueiro. De que maneira vocês avaliam essa mudança na cena?

Gustavo: Acho que o mainstream existe, mas é de bandas mais antigas, como Skank, Capital Inicial. Mas o mercado tem mudado muito. Ser do mainstream passou a ter valor e significado diferentes. As bandas de médio porte se fortalecem cada vez mais.

Tomas: Nós temos vários amigos do rock, obviamente. Conversando com eles, notamos que o maior foco da galera não é ser do mainstream. É, obviamente, viver disso, ganhar dinheiro com isso, até para permitir que continuemos lançando coisas e fazendo música. Mas não é o foco principal. Não tem rock no mainstream, mas hoje não é tão mais necessário.

Lucas: Com a difusão de música na internet, desde os anos 2000, o mainstream virou mais um rótulo pro mercado do que pro público. A galera que ouve Scalene ouve diversas outras bandas que estão totalmente fora do radar do mainstream, em diversas outras plataformas, e que dão shows que não são divulgados pela grande mídia. Então, é um rótulo que serve muito mais para o mercado corroborar um certo nicho do que coisas que bandas ou pessoas estimam.

Philipe: Tem muita banda que não é do mainstream que está tocando na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil inteiro, em todas as capitais.

Gustavo: O sonho do Scalene não é estar no mainstream. A gente acabou ficando por causa da porta da Globo. Mas a gente se imagina numa banda que tenha uma carreira. Talvez a gente valorize mais que ela seja longa, duradoura e relevante do que ficar no mainstream por alguns anos e depois tenha uma queda muito grande e tal.

Ouça “Inércia”, uma das faixas inéditas da banda:

Como tem sido o contato de vocês com outras bandas de Brasília?

Gustavo: A gente está gostando muito do potencial da banda Alarmes. Eles estão prestes a lançar CD agora.

Lucas: A banda já existe há certo tempo, mas está começando a lançar material de verdade agora. O cenário musical brasiliense floresce e aí dá uma baixada. Quando a gente começou, havia várias bandas. Várias delas se encerraram, ficaram em hiato ou muito tempo sem lançar nada. A gente prevaleceu e expandiu.

Tomas: A gente precisa de integrantes com tempo pra investir e viver de música. A maior dificuldade disso tudo talvez seja persistir. Qualidade sempre tem, mas tem gente que acaba ficando pelo caminho.

Lucas: Dentro de cada crescida dessa surge uma banda que consegue despontar: Autoramas, Raimundos, Móveis (Coloniais de Acaju), todas em cenários com outras bandas que não tiveram destaque. Essas que eu citei começaram a sair mais e a serem identificadas como bandas do rock nacional – o que não é ruim, logicamente.

Nas viagens, como é a percepção de outras cenas em relação ao rock de Brasília? E como é a relação de vocês com os grupos históricos da cidade?

Gustavo: A geração acima da nossa até que tem um pouco o lance de ‘Brasília capital do rock’. “Ah, sai muita coisa boa de lá, né”. Digamos que os pais dos amigos de banda têm essa visão. A nossa geração já não tem. Em relação aos anos 80: foi foda, a gente respeita muito. Sonoramente, já não nos inspira. Claro que em questão de letra é bem atemporal.

Tomas: Essa nova geração já nasceu num mundo extremamente globalizado. Cada vez menos se fala do rock de Brasília, Natal, Goiânia. É o rock nacional.

Além de Brasília, quais lugares têm os fãs mais presentes da Scalene?

Tomas: São Paulo e Rio. No Nordeste conseguimos levar uma galera massa, com shows sempre muito divertidos. E o Sul tem tradição boa de rock, mas ainda estamos em processo de consolidar. Em São Paulo e Rio isso é natural, são cidades que consomem muita coisa.

Scalene – gravação do primeiro DVD
Sábado (19/3), às 20h, na Arena Lounge do Estádio Nacional Mané Garrincha (Eixo Monumental). R$ 60 (terceiro lote). Ingressos à venda nas lojas Açaí Amazônia (204 Norte), Endossa (306 Sul), OverStreet (Conic e Gilberto Salomão), Koni Stores, Kings Sneakers (ParkShopping) e pelo site www.influenzaproducoes.com.br. Nos pontos de venda será aceito apenas pagamento em dinheiro. Não recomendado para menores de 16 anos.

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