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Livro reúne poemas do polêmico cineasta italiano Pier Paolo Pasolini

Edição homenageia os 40 anos de morte do artista que, na análise do professor de literatura Alexandre Pilati, da UnB, tinha um “fundo romântico dilacerado, realista angustiado ou desesperado”.

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“Só, só, uma estátua de cera endurecida pelo velho raio de minha vida passageira…”. Assim, duro e melancólico, começa um dos versos escritos pelo italiano Pier Paolo Pasolini, que integra a coletânea “Poemas” (Cosac Naify, R$ 59,90), lançada neste mês em homenagem aos 40 anos de morte do artista.

O leitor que se propõe a desvendar cada um dos poemas presentes na obra terá a chance de conhecer a intimidade de um dos artistas mais polêmicos do século 20. Famoso por dirigir filmes controversos como “Teorema”, “Os Contos de Canterbury” e “Saló ou os 120 dias de Sodoma”, é na poesia que Pasolini encontra espaço para libertar toda a tensão presente em seus pensamentos.

De língua ferina, o escritor faz da lírica um verdadeiro manifesto contrário à massificação da arte, além de assumir seus desejos homossexuais (num período em que isso era um crime) e destilar bastante ódio contra uma burguesia “moralmente fascista” existente em sua terra natal.

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Raros em língua portuguesa, os poemas foram extraídos de sete livros publicados pelo autor enquanto ainda era vivo. São todos do estilo “experimentalista”, em que a poesia recusa limites tanto linguísticos como temáticos. Nessa edição, eles são apresentados ao lado da versão original, em italiano e friulano, dialeto que Pasolini aprendeu com a mãe – muito falado por povos que vivem no extremo norte da Itália.

Tempos difíceis
Antes de se tornar o cineasta envolvido em polêmicas que culminariam em seu assassinato na beira de uma praia italiana, Pasolini graduou-se em literatura pela Universidade de Bolonha. Sua formatura se deu em 1939, justamente no ano em que se iniciou a II Guerra Mundial — momento em que a Itália era vivia sob o comando do fascista Mussolini.

O conflito armado, que deu espaço para o crescimento de uma política clerical de direita – e minou a produção artística de seu país – tornou o poeta um verdadeiro crítico de seu tempo. Porém, o fez desconfiar de suas crenças e seus desejos. Afinal, como não se perguntar sobre o estado de espírito do poeta quando escreveu, no poema “As Cinzas de Gramsci”, que “entre as ruínas extinto o profundo e ingênuo esforço de refazer a vida, o silêncio pútrido e infecundo…”.

Insubmissão
Alexandre Pilati, professor de Teoria da Literatura pela Universidade de Brasília, realizou diversos estudos acerca da poética de Pasolini. Em certo momento, o especialista afirma perceber em Pasolini um “fundo romântico dilacerado, realista angustiado ou desesperado”.

Dono de um comportamento irreverente, sua forma de encarar os preconceitos do seu tempo se tornou em um ponto-chave que torna a obra de Pasolini uma das mais originais já feitas pela cultura italiana em tempos modernos. Não tinha medo de falar que “sob a lisa parede de uma igreja se estendiam, viciosos, os jovens” e muito menos que “naquele mundo morto recomeçava, para ele, a realidade”. É uma ode à insubmissão que o fez ser expulso do Partido Comunista Italiano e de seu posto como professor universitário.

Toda essa intriga foi o empurrão que Pasolini precisava para trabalhar com o cinema – justamente o meio mais conhecido por transformar a arte em puro entretenimento. O paradoxo do poeta ia além ao se afirmar como antimoderno, aliando-se à forte tradição italiana de proteger e glorificar os antepassados. No poema “A Força do Passado” dizia em primeira pessoa que “só na tradição consiste meu amor”. Afirmações nada inesperadas se vindas de alguém que declamava uma poesia na qual, para se enxergar a realidade, tinha a necessidade de se autodestruir.

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