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Lugar de grafite é no museu? Especialistas e artistas debatem o tema

A exposição “Mundez”, em cartaz no Museu Nacional, levanta a discussão sobre a institucionalização da arte urbana

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Nas ruas do Distrito Federal e de outras grandes metrópoles, o grafite já faz parte da paisagem. Agora, os desenhos, cada vez mais, colonizam outros espaços: como as paredes de museus e galerias. A transição, entretanto, muda a essência do trabalho, que passa de um grito de protesto urbano para a formalidade da obra de arte.

A exposição “Mundez”, em cartaz no Museu Nacional Honestino Guimarães, traz obras de grafiteiros brasilienses ao lado de telas de pintores como Alfredo Volpi e Josafá Neves. O diretor do complexo cultural e curador da mostra, Wagner Barja,  também acredita que a arte urbana muda seu papel quando sai da rua. “De alguma forma estamos domesticando o grafite, mas também o colocamos em discussão com outras obras, mantendo-o vivo”, opina.

A intervenção urbana, na origem, é uma arte democrática, um grito do artista no meio da rua para qualquer um ouvir. O grafite, então, abre um debate sobre o lugar tomado, se o espaço público é do cidadão ou do governo, se é embelezamento ou vandalismo. Questões que fazem, mais do que nunca, parte da nossa sociedade.

A rua é uma escola que os pais não têm como pagar, o aprendizado é incrível

Yong, grafiteiro de Brasília

Pedro Russi, professor de comunicação da Universidade de Brasília, sintetiza as diferenças entre o grafite nos muros e o das galerias. “No momento em que a arte urbana sai da rua e entra no museu, ela perde seu significado, seu poder de tensão. Vira pintura”, critica.

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Com a voz, os artistas
Daniel Toys concorda com a visão de Russi. “O grafite é na rua, funciona como um ato de transgressão, toma o espaço sem pedir licença. Quando ocorre a transição para um espaço institucional, torna-se uma obra de arte”, comenta

Pedro Sangeon, o Gurulino, artista urbano formado pela UNB, pensa que o grafite sempre seguiu em uma via paralela na história da arte. “O ser humano desde os seus primórdios tem necessidade de se exprimir através de imagens em seu habitat, tanto externo quanto interno”. Yong, outro conhecido grafiteiro brasiliense, é ainda mais radical. “Precisamos continuar sendo uma forma de expressão ilegal para sobreviver”, atesta.

Distante do povo
A arte dos grafiteiros, porém, é frágil. Além da autoridades, que muitas vezes destroem painéis arbitrariamente, o público interfere nos painéis. Apagam, modificam e os transformam. Por essa razão, apontam alguns especialistas, surge a importância dos registros em telas, murais e fotografias.

A historiadora Renata Almendra, co-autora do livro “Entre Cores e Utopias. O Grafite em Brasília e Seus Arredores”, no entanto, aponta que a entrada da arte urbana em museus cria uma dificuldade no acesso a esse conteúdo. “Em lugares institucionais, legitimados pela tradição, existe ainda uma barreira na cabeça do povo, por ser considerado um espaço elitizado. Isso, infelizmente, distancia a obra do observador”, analisa.

A observação de Renata, por exemplo, foi vivida na prática por Barja. O diretor e curador viu dois garis hesitando em entrar no Museu Nacional. De imediato, foi em direção aos dois e os convidou para conhecer o centro cultural. “O museu é de todos”, disse.

Colaborou Paulo Lannes

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