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Conheça Odrus, o grafiteiro surdo que faz vaquinha para ir à França

O artista enfrentou a criminalidade e, hoje, utiliza seu exemplo para mudar a realidade de crianças e jovens do Brasil e do mundo

atualizado

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Divulgação
ODRUS odrus 1
1 de 1 ODRUS odrus 1 - Foto: Divulgação

Odrus é um anagrama de ‘surdo’, a palavra que caracteriza a deficiência do grafiteiro Rafael Santos, 34 anos, aparece escrita de trás pra frente. A escolha resume o caminho do rapaz, que ainda adolescente envolveu-se com o mundo do crime, frequentou unidades socioeducativas e, após se reconciliar com o passado, fez sucesso mundo afora com sua arte. O artista promove financiamento coletivo com intuito de arrecadar R$ 2 mil para participar do Festival Clin d’Oeil, em julho, na França.

Rafael nasceu com a deficiência e, durante a infância, passou por muitas intempéries na escola, pois não tinha intérprete de libras. Com a realidade conturbada das periferias do Distrito Federal, aos 16 anos, envolveu-se com crimes, roubos e assaltos, e foi internado duas vezes em unidades socioeducativas.

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O grafite veio depois, como resistência. Uma forma de mostrar a arte de quem não escuta o mundo, mas também não é escutado nem visto. De forma autodidata, o artista dedicou-se aos desenhos e pinturas. Para comprar as tintas e os sprays, trabalhou como auxiliar de limpeza em uma empresa terceirizada. “É um material que sempre foi caro e a prática de crimes é algo do passado, que me arrependo muito de ter feito. A arte me incluiu em um mundo novo”, explica Rafael.

Os anos se encarregaram de fazer com que Odrus se especializasse na arte de rua. Em maio, ele participou da exposição Mundez, no Museu Nacional da República, com duas paredes grafitadas. Viu seus desenhos dividirem espaço com obras de Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral, Rubem Valentim e Anita Malfatti.

“Assim como o grafite mudou minha vida, quero ajudar a transformar a vida de jovens envolvidos com o crime ou em situação de pobreza. Quero que eles tenham sonhos e perspectiva de futuro”

Odrus

Clin d’Oeil
O próximo passo na carreira passa pelo Festival Internacional Clin d’Oeil, focado em artistas surdos. O evento, criado em 2003, reúne diversas expressões artísticas associadas a linguagens de sinais. A troca de experiência ocorre a cada 2 anos.

Na edição de 2017, Odrus vai a Paris promover uma oficina de grafite destinada a adultos e crianças com deficiência auditiva. “Só tenho um sonho: de que o grafite e a arte surda no geral sejam valorizados aqui no Brasil também. Assim, eu poderia viver do que eu amo”, pondera.

A produção do evento pagou a passagem, hospedagem e alimentação. Para ajudar com os custos extras de viagem, Odrus faz uma vaquinha na internet. O objetivo é arrecadar R$ 2 mil. As contribuições, de qualquer valor, podem ser feitas on-line. Além disso, com o apoio da noiva e da família, ele vende rifas de uma cesta de chocolates.

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