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Coleção particular remonta a história da arte brasileira moderna e contemporânea

Conjunto de peças guardadas pelo colecionador Cláudio Pereira já despertou interesse até no MoMA, mas sua intenção é achar meios de manter o acervo em Brasília

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Fotos: Bruno Pimentel/Metrópoles
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Entrar no apartamento do colecionador de artes Cláudio Pereira, 52 anos, na 304 Norte, é uma oportunidade de ver de perto um grande número de obras assinadas por artistas nacionais renomados. Logo no hall, o visitante é arrematado pelos desenhos de Anita Malfatti e Portinari, que dividem o espaço com esculturas do Bruno Giorgi e dos irmãos Campana.

Ao adentrar a sala, a sensação é de estar em uma galeria. São dezenas de peças espalhadas no chão, nas paredes e em cima dos móveis da casa — também legítimas obras de arte. Criações de Burle Marx, Antônio Poteiro, Rubem Valentim e Francisco Brennand, dividem espaço com um busto grego-romano, uma escultura da china imperial e utensílios pré-colombianos.

Nos outros cômodos, não é diferente. Há produções de Siron Franco, Djanira, Farnese de Andrade e Athos Bulcão, entre outros. “Nunca contei, mas devo ter cerca de mil obras de valor, que distribuo em três apartamentos diferentes”, diz.

Parte dessa coleção, denominada Acervo Brasília, compôs a exposição “Brasília 55 Anos – Da Utopia à Capital”, que ocupou a Galeria Athos Bulcão no primeiro semestre. As 60 peças, juntas, foram avaliadas em R$ 1 milhão e receberam o selo de patrimônio nacional pelo Instituto de Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan). “A coleção conta, sozinha, a história da cidade”, diz o colecionador.

Conheça algumas das peças que compõem o acervo de Cláudio Pereira:

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Antes de a mostra chegar aqui, o Acervo Brasília já havia sido apresentado em capitais da Europa, como Paris, Berlim e Madri. Isso deu fama à coleção de Cláudio, que passou a ser sondada por diversas instituições, como a Universidade de São Paulo (USP), responsável por 13 museus — entre eles, o Paulista e o de Arte Contemporânea.

Porém, o que mais chamou atenção do colecionador foi a proposta de Martino Stierli, curador da sessão de arquitetura e design do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, um dos mais conceituados em todo o mundo.

Stierli se mostrou interessado em expor e estudar as obras relativas aos arquitetos e urbanistas que desenharam a capital. “Tenho dúvida sobre aceitar a proposta, porque não quero que a coleção se afaste de Brasília”, diz. Para o colecionador, o ideal é que essas peças tenham um espaço em algum museu da cidade, de modo a fortalecer a identidade cultural de quem vive por aqui.

Herança familiar
No caso de Cláudio, a paixão pela arte é hereditária. Nelson Pereira, o avô, era conhecido como um verdadeiro mecenas de São Luiz (MA) enquanto ainda estava vivo. Sua fama era tanta que, depois de morrer, sua casa foi transformada na Academia de Letras maranhense.

Os pais de Cláudio, Izolete e Domício, juntaram o gosto artístico com o espírito de aventura e resolveram, com o filho de 3 anos, apostar na nova capital do país, então recém-inaugurada, em 1963. Domício assumiu um importante cargo na Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), enquanto Izolete se tornou uma das das primeiras funcionárias do Ministério da Fazenda.

Foi nesse período que o casal reuniu grande parte do que hoje é o Acervo Brasília. Em 1988, a mãe de Cláudio se torna referência ao idealizar a Fundação Brasília de Artes e Humanidades, sendo premiada pela Unesco pelo trabalho de alfabetização junto à comunidade carente da cidade.

O colecionador em companhia de Oscar Niemeyer, em 2001
O colecionador em companhia de Oscar Niemeyer, em 2001

Vida dedicada às artes
A primeira experiência de Cláudio Pereira em curadoria foi aos 24 anos, quando integrou a equipe que lançou o I Festival Latino Americano de Arte e Cultura da Universidade de Brasília (UnB).

Depois disso, foi chefe do Núcleo de Imagem e Som da Gerência Cultural e Técnica do Arquivo Público, em 1990, e chegou ao cargo de diretor do Museu de Arte de Brasília (MAB), em 2000. Ficou somente um ano no posto. Foi afastado por desavenças com o governo. “Propus que o museu tivesse uma autonomia jurídica, pois sofria interferências externas constantemente”, explica. Mais tarde, em 2010, criou a Associação dos Amigos do MAB para lutar pela restauração do espaço.

Atualmente, Cláudio Pereira usa boa parte de seu tempo na manutenção do acervo, que cresceu consideravelmente com compras em leilões. Algumas delas em 2009, quando Lily de Carvalho, viúva de Roberto Marinho, vendeu boa parte do acervo histórico e artístico do criador da Rede Globo. “Arrematei móveis coloniais e outros utensílios maravilhosos naquele evento”, recorda.

O colecionador também é convidado para avaliar a autenticidade de diversas obras, além de fazer um resgate histórico da peça em questão. Em um dos encontros com a equipe de Metrópoles em sua casa, encontrava-se debruçado sobre um desenho que suspeitava ser de Alfredo Ceschiatti, mais famoso por suas esculturas (como a estátua “Justiça”, que se encontra em frente ao Supremo Tribunal Federal). Trabalho prazeroso para quem tem tanta intimidade com peças de arte.

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