Mostra no CCBB revisita obra humanista dos irmãos Dardenne

Donos de uma trajetória única no cinema contemporâneo, os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne são especialistas em dar o tom preciso para certas angústias da experiência social. É a Europa narrada por meio de seus personagens mais pobres, desesperados e melancólicos. A obra dos cineastas envolve a retrospectiva “Cinema Humanista – Irmãos Dardenne”, a partir de quarta (10), no Centro Cultural Banco do Brasil.

Sem nunca apelar para o dramalhão ou o dispensável sentimento de culpa, os Dardenne sequer recorrem aos arroubos sentimentais de trilha sonora ou atalhos de roteiro para encantar público e crítica. Temas como desemprego, abandono e imigração ganham relevo intimista e naturalista pelas mãos dos belgas.

Não por acaso, já ganharam duas vezes a Palma de Ouro – por “Rosetta” (1999) e “A Criança” (2005) – e se estabeleceram como nomes influentes no cinema de arte nas últimas duas décadas. Pouco a pouco, se permitiram experimentos mais leves, como “O Garoto de Bicicleta” (2011), e a associação a nomes famosos, quando trabalharam com Marion Cotillard em “Dois Dias, Uma Noite” (2014), mais recente da dupla.

Veja a programação completa da mostra

 

Sob curadoria da diretora Caru Alves de Souza (“De Menor”), a mostra espalha 22 títulos em três eixos. Numa seara mais didática, a programação exibe os sete últimos longas-metragens dos cineastas: desses, apenas “A Promessa” (1996) não passou pelo Festival de Cannes.

Oito filmes dão conta do trânsito dos irmãos como produtores de outros realizadores, como o francês Jacques Audiard (“Ferrugem e Osso”), o britânico Ken Loach (“À Procura de Eric”) e o romeno Cristian Mungiu (“Além das Montanhas”).

Por fim, a retrospectiva seleciona sete documentários inéditos no Brasil, feitos pelos Dardenne entre 1979 e 1983. “Falsch” (1987) revela uma crônica bastante particular sobre o Holocausto, enquanto “Lições de uma Universidade Voadora” (1982) narra histórias de imigrantes na Europa.

Os irmãos Dardenne em três filmes

“Rosetta” (1999)
Vencedor da Palma de Ouro, ainda se sustenta como a obra-prima dos irmãos. Uma câmera ao mesmo tempo sensível e sufocante acompanha os tormentos da adolescente Rosetta (Émilie Dequenne). Ela tenta arranjar um emprego para se livrar da vida que leva num trailer, na companhia da mãe alcoólatra.

“O Filho” (2002)
Com um visual ainda mais claustrofóbico e sugestivo, os Dardenne narram a perseguição de um carpinteiro (Olivier Gourmet) ao assassino (Morgan Marinne) de seu filho. Apesar da premissa simples, não se trata de um thriller ordinário. Instrutor de jovens aprendizes, Olivier aceita o garoto mesmo sabendo do crime e se aproxima do discípulo com intenções ambíguas, entre a vingança e a compaixão.

“O Garoto de Bicicleta” (2011)
Após “O Silêncio de Lorna” (2008), elo fraco na carreira dos cineastas, este drama otimista emoldura um garoto solitário (Thomas Doret) acolhido por uma cabeleireira (Cécile De France). O filme marcou uma importante abertura estética nos procedimentos dramáticos dos irmãos: adesão ao uso de música, câmera menos urgente e mais relaxada e fotografia de raro interesse em composições ensolaradas.

Cinema Humanista – Irmãos Dardenne
De quarta (10/2) a 29/2, no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Esportivos Sul, trecho 2, lote 22, 3108-7600). Ingressos: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia). Sessões sempre de quarta a segunda. A classificação indicativa varia de acordo com os filmes. Veja a programação completa.